16 de dez. de 2008

Mae Zune


Mae é uma só, mas as vezes a gente tem a sorte de ser adotada por mulheres fortes e cheias de amor que cruzam o nosso caminho. Com a Vezune nao foi diferente. Por ser assim, grande por fora e por dentro, ter um coracao infinito como o das maes e essa coisa bonita de gostar de cuidar das outros, abriu suas asas e acolheu todo o nosso galinheiro. Foi ela, com esse jeitinho ou mesmo tempo bravo e carinhoso, que fez da gente uma familia. As primeiras festinhas de fim de ano e os famosos chás da 5 comecaram na sua casa. Um jeitinho que ela encontrou de reunir a ninhada. Cheia de corujices, nunca perdeu uma apresentacao de teatro, coral ou PGE de suas filhas. Cuida de porres a coracoes depedacados. Da bronca, noticias e avisa quando alguem faz aniversario. E quando estava para ser vovó só faltou tricotar meias. Foi ela quem recebeu a noticia da chegada da Julinha ao mundo e ligou para todas nós, cheia de emocao, para dar a boa nova. Emocao que só as maes sentem.


Essa semana minha mae Zune ficou mais velha e se chateou porque sua filha desgarrada nao ligou. Mas ela sabe da filha que tem: enroscada, cheia de se naos, inadimplente. Mas que mesmo de longe, mesmo ausente, nao deixa nunca de pensar nela. Mae a gente nao esquece e ela sabe disso. E eu fico tranquila. Prometo que vou mudar. Sei que todo esse amor, de ambos os lados, é incondicional. Coisa de família mesmo. Porque mae pode nao ser uma só, mas todas sao para sempre. E com ela nao seria diferente.

10 de dez. de 2008

Manual de Sobrevivencia em Berlin

Cada dia que passa me impreciono mais com as diferencas culturais entre Tupiniquins e Germanicos. E adoro isso, acho interessante. Como diz Ignácio de Loyola Brandao, os alemaes sao um povo curioso de se observar. Assim como sei que somos para eles também. Mas tem coisas que é preciso aprender rápido por aqui pra nao tomar bronca - que eles dao mesmo.

Supermecado
- Antes de sair as compras faca um alongamento. A atividade é praticamente uma maratona. Demorou um pouqinho pra colocar as coisas na sacola e pagar? Se prepare pra o bombardeio de olhos tortos, tanto de clientes como de funionários.
- Jamais jogue fora suas garrafas vazias. Em quase todos os supermercados existem maquinas de trocas de ambalagens (vidro = €0,08; lata = €0,10 e plástico = € 0,15). Ainda me assusto com essa tecnologia. Voce coloca a garrafa num buraco, ela corre por um esteira, a maquina le o codigo de barra e engole. Tudo vai sendo computado e enquanto vc acompanha o saldo numa mini tela de computador. Acabado o servico, voce aperta o botao verde e recebe um estrato para trocar por dinheiro depois. Dependendo da bebedeira, dá pra fazer a compra da semana com o dinehrio do lixo. Meu recorde foi € 9,60.

Festas na Casa de Amigos
- Seja pontual. 15 minutos é o MAXIMO que os alemaes aceitam como atraso. Brasileiros desavisados (que chegam com 1h, 1h 30 de atraso) correm o rsico de chegar no final da festa.
- Leve sempre o que for beber. Aqui ninguem banca o porre alheio.
- Capriche nas meias. Ao chegar no ap. os sapatos ficam na porta.

Roupa
- Cuidado para nao virar carnaval. Hoje entendo de onde vem essa noia sobria na moda alema. Nao passar frio exige um minimo de 7 pecas e combinar tudo isso com cores e estampas fica um pouco complicado.
- Nao é só o frio que pega em Berlin. A chuva está presente em pelo menos 4 dias da semana, principalmente no inverno. Por isso, adote o casaco impermeavel, mesmo que isso signifique o fim da tentativa de manter um minimo charme.

Pelas Ruas
- O perigo de Berlin nao está no transito, muito menos na violencia, mas nas bicicletas. Basta voce estar no caminho delas (as faixas vermelhas da calcada) para elas se tornarem impiedosas, violentas e com serias tendencias assassinas. Nao há um desavisado que nao tenha pela menos uma histária de buzinas histéricas, xingamentos mal educados e até atropelamentos.
- Evite olhar nos olhos de desconhecidos. Isso, como muitas, mas muitas outras coisas na Alemanha, é considerado invasao de privacidade. Para evitar descuidos (eu sempre me pega sem querer olhando pra galera no metro) tenha sempre um livro em mao. E foco!

Se lembrar de mais coisas, posto!

8 de dez. de 2008

Velhos desdobramentos da nova (velha) crise

Copiado e colado do blog de Rachel Nunes

A manchete: "GM pode demitir até 31 mil funcionários em quatro anos (Publicada em 03/12/2008 às 09h52m, em O Globo) - O plano de reestruturação da General Motors (GM), divulgado nesta terça-feira, mostra que a maior montadora americana planeja cortar entre 21 mil e 31 mil empregos até 2012, reduzindo sua força de trabalho para algo entre 65 mil e 75 mil funcionários".
As "soluções" do capitalismo sempre passam por isso: a precarização da vida do trabalhador; arrochos salariais e desemprego puro e simples, puxando uma recessão até que o freio de arrumação ponha ordem no mercado de bens e serviços, propiciando, mais adiante, soerguimento do sistema, seu ápice até ressurgimento de nova crise, e assim iremos até que, um dia, superemos esse modelo econômico.
Lembro da velha contenda capitalismo x comunismo, ainda viva nos discursos direitófilos pelo mundo afora. Coisa chata. Tanto quanto o capitalismo, o comunismo só "dá certo" para 30% dos habitantes dos países onde se tornou poder hegemônico, beneficiando sua classe dirigente e seus diligentes burocratas cumpridores de ordens. Só que tem um problema: você chama de comunismo o stalinismo e todas os desconcertantes desdobramentos do modo stalinista de governar, e de democracias qualquer país capitalista, independentemente de sua estrutura de poder, igualmente centralizado e excludente.
Não há país desenvolvido no mundo que não tenha seu padrão de vida sustentado pela miséria imposta às economias periféricas, exportadoras de matérias-primas e mão-de-obra barata.
Não há regime político que tenha desenvolvido formas eqüitativas de distribuição de renda, direitos e deveres. Todos estão devendo, e o máximo que uma democracia consegue é ser menos pior. E isso é muito pouco.

3 de dez. de 2008

Ela

"Estar em Berlin nao é estar na Alemanha. É simplismente estar em Berlin, um principado como Monaco ou Lichteinstein. Há um espírito berlinense, uma fala, uma tradicao, um comportamento, um modo de ser"

Trecho de O Verde Violentou o Muro de Ignacio Loyola Brandao

Lobo Bobo


Li no blog do Papas a sua opiniao - que combina com a minha - sobre o novo motivo de barulho no Brasil: o casal camelo e mallu. Ri com a brincadeira do Lobo que ele fez e lembrei na hora da música de carlinhos lyra e boscoli, Lobo Bobo, que conta exatamente a historia desse ultimo com a entao menininha Nara leao. A diferenca de idade entre eles é a mesma do novo casal e a história se repete: os conservadores de plantao- como muitos da época que mal diziam a nova bossa - voltam a soltar seu veneno. A impressao que tenho é que os anos passam e a juventude fica cada vez mais conservadora. Pq meu deus?

Era uma vez um lobo mau
Que resolveu jantar alguém
Estava sem vintém , mas arriscou
E logo se estrepou
Um Chapeuzinho de maiô
Ouviu buzina e não parou
Mas Lobo Mau insiste e faz cara de triste
Mas Chapeuzinho ouviu os conselhos da vovó
Dizer que não pra lobo, que com lobo não sai só
Lobo canta, pede, promete tudo até amor
E diz que fraco de lobo é ver um
Chapeuzinho de maiô
Mas Chapeuzinho percebeu
Que Lobo Mau se derreteu
Pra ver você que lobo também faz papel de bobo
Só posso lhes dizer, Chapeuzinho agora traz
Um lobo na coleira que não janta nunca mais

28 de nov. de 2008

o eu que era eu

E tudo que eu andava fazendo e sendo eu não queria que ele visse nem soubesse, mas depois de pensar isso me deu um desgosto porque fui percebendo (...) que talvez eu não quisesse que ele soubesse que eu era eu, e eu era.

Além do Ponto - Caio Fernando Abreu
Texto na integra: http://caio-fernando-abreu.blogspot.com/2007/06/alm-do-ponto-caio-fernando-abreu.html

A Trois


A Pi é mentirinha porque tem pernas curtas, é a Pixote das meninas, a Pipoca dos namorados, a minha PIquena Miss sunshine. A Rach odeia que chamem ela de Quel, é Buzzo durante o dia e Cheleeeeem a noite, a minha Tartaruga. A relacao entre nós tres foi meio a la Boscoli e Elis Regina, comecou em guerra e acabou em casamento. A primeira batalha foi com a Pixe. Sua alergia nao combinava com meus cigarrinhos e isso, reforcado com um genio dificil vindo de ambos os lados, foi motivo de muita farpa no comeco. Numa tarde qualquer, sem aviso, ela se mudou pra minha casa de praia pra passar o resto das ferias e ficar de vez no meu coracao. Enfim aliadas, entramos em seguida numa outra briga, agora contra um novo membro do batalhao, Chelem. Dessa vez, foi seu super bom humor que nao combinou com o temperamento muitas vezes ranzinza da dupla. Mas ela tava armada de muito carinho e a gente nao resistiu, a Tartaruga ganhou o nosso amor. Pronto! Tava feito o casamento: o tripé das maridas. Com a participacao acidua da lorinha, vivemos a partir de entao uma eterna lua de mel - com algumas briguinhas saudáveis a qualquer casal, no caso, trio. Numa dessa loucura inconsequentes que se faz só por amor, entramos num estudio de tatuagem como quem casa em Las Vegas, e tatuamos o corpo como prova de amor. Só que no nosso caso a capela foi Barcelona e o padre se camava Kiki. Hoje o Tripé está em pleno espacate, cada extremo num ponto do mundo. Os tendoes se esticaram, mas jamais se romperam. A gente se cuida, se ama, se escreve. Quando duas se encontram levam sempre a terceira no espírito. Somos maridas, irmas, amigas, maes e filhas. E os pápeis vivem em rodízio. Quando uma apronta, as outras se preocupam, dao bronca, aconselham. Quando a noticia é boa, as outras viram pavoes, maes cheias de orgulho. A gente torce uma pela outra, comemora e fica triste. O tempo e a distancia que nos separam foram presentes que a vida nos deu pelas bodas, aniversario de 5 anos de casamento. Pela óptica da saudade reconhecemos a forca dessa uniao, a sua verdade e a sua importancia. A amizade cresceu, valorizou, está consolidada. O Mundo pode cair lá fora, mas o tripé está mais firme do que nunca, ninguém pode derrubar.

27 de nov. de 2008

Meu Pai, Meu Herói


Joana sempre teve em seu pai o heroi de suas histórias. Quando era pequena, subia em suas costas e ele trotava por toda a casa como se fosse seu cavalo alado. Antes de dormir, contava sempre a mesma hisória, a pedido dela, sobre o dia em que Sao Pedro ficou doente e os bichinhos da floresta passaram dias na seca, sem um pinguinho de chuva. Em noites de insonia, quando ela chorava com medo de morrer, ele segurava na sua mao e cantava: Minha jangada vai sair pro mar, vou trabalhar, meu bem querer... Na escola, quando pergutavam sobre a profissao do pai, ela enchia a boca pra dizer MICROBIOLOGISTA sem ter a menor idéia do que aquilo significasse. E quando repetiu a quinta série, foi ele quem lhe deu a notícia dizendo: Minha filha, nao fique triste. Voce nao foi a primeira e nem a última. Será melhor pra voce. Certo dia ela decidiu que queria aprender a andar cavalo de verdade. Ele, que nunca teve dinheiro para tanto, achou uma escolinha pangaré perto do sítio e, por mais de ano, levou-a religiosamente todos os domingos, as 8h da manha, para ter as aulas. Joana vinha a cada hora com uma mania diferente e ele sempre acompanhava como quem quer ver aonde aquilo vai dar. Virou beata de igreja e ele, que sempre fora ateu, ia com ela às missas sempre com um trocadinho no bolso para que ela depositasse na caixinha do dizimo. Depois quis ser judia. Ele, mais uma vez, a apoiou em todas as buscas de documentos e assinaturas para entrar para a Hebraica. Quis mergulhar, ele arrumou um instrutor, quis viajar, ele lhe deu o mundo. Foi ele também, quando ela completou 12 anos, que comprou um lancha (outro pangaré, só que esse a motor) para ensinar-lhe a esquiar. Assim como ele, ela nunca chegou a fazer grandes manobras. Mas depois de dias na represa de Segura firme na manete, Vou esticar a corda, Vai pai! Ao fim de uma chuva de verao, que deixa as aguas lisas como um espelho, num desses Vai! ela foi e aprendeu. Quando ele achou que já estava em tempo, deu a ela dois tesouros: Revolucao dos Bichos e O Mundo de Sofia. O primeiro ela até conseguiu entender - com a ajuda do pai, claro - mas o segundo ela largou antes mesmo de Sofia receber o terceiro envelope. Isso, no entanto, nao a desencantou com livros, pelo contrário, viu neles uma oportunidade de ser como seu heroi. Já adolescente, aos 15 anos, Joana apresentou ao pai o primeiro namorado. Ele, ao contrário de sua maioria, calou-se tentando segurar uma ou duas lágrima que insistinham a cair pelo rosto. Apertou firme a mao do rapaz enquanto dizia: é um enorme prazer. Naquele mesmo dia levou a filha para o seu restaurante japones predileto e disse a garconete: Marilda, duas cervejas, por favor. Hoje o dia é de comemoracao. O namoro nao durou muito, mas as cervejinhas entre pai e filha tornaram-se cada vez mais constantes. Eles falavam de tudo. Foi ele quem a apresentou a Sartre, relatividade, quantica, comunismo, Elis Regina, pesca submarina, Novos Baianos, Amazonia, ditadura. Foram nessas conversas, banhadas de muita filosofia e brahma, que Joana comecou a entender realmente a lingua do pai - dai em diante e para sempre na sua cabeca o maior de todos os cientistas maulcos. Quando ela comecou a ter dúvidas sobre quem era - ou conheceu o existencialismo - ele contou com um brilho nos olhos sobre o dia em que descobriram, durante uma experiencai em meados de 20, que as ondas podiam tornar-se moléculas e as moléculas podiam torna-se ondas. E que, portanto, nada tinha uma forma definida, nem ela precisava ter. Quando ela fez sua primeira tatuagem ele definiu seguro: Isso, segundo Darwin, é ritual de acasalamento. Os pavoes exibem as penas e voce, minha filha, pinta o corpo. Mas o fim é o mesmo, chamar a atencao do sexo oposto.

Meu Pai, Meu Herói - continuaocao


Essa relacao deu a Joana o privilégio de ter no pai o melhor amigo. Quando perdeu a virgindade ele foi dos primeiros a saber. Quando quis falar sobre dogras, ele nao relutou em explicar e até ouviu suas experiencias. Quando entrou em crise com a profissao, foi ele quem a ajudou e mostrou-lhe um outro mundo, o das artes. Quando ela trouxe um novo namorado - esse pra valer - ele virou para o novo genro sem a menor cerimonia e disse: Camisinha, ehn! E ela pensou: É! Esse é o meu pai. Joana entrou nessas de saber por causa dele. Achava linda a sua forma de parodiar a vida dando sempre maior sentido as coisas com explicacoes tao mágicas. Pensava que se soubesse como ele seria também respeitada como ele. Num dado momento sentiu que precisava se desgarrar. Tinha chegado a hora de tirar as rodinhas da bicicleta, de ouvir a si mesma e sozinha ver o que tinha pra ser e falar. Mais uma vez, com total apoio dele, foi embora para longe sem qualquer objetivo claro e nenhuma data pra voltar. Sem a capa de seu super heroi, ela deu com a cara no espelho, no mundo, na solidao. Se confundiu, se perdeu. Ela sabia que isso fazia parte do processo e ele também. Mas, como fazia quando ela era crianca, veio mais uma vez ao seu encontro segurar sua mao e contar mais uma de suas grandes histórias: Filha, voce sabe como o passarinho aprende a voar? A mae-passaro leva o filhote para qualquer lugar bem alto e de lá o empurra para baixo. Se ele nao consegue voar, ela vai atrás dele, o agarra com o bico, sobe outra vez e o empurra de novo lá de cima. Voce acha que isso é fácil para a mae-passaro? Claro que nao! Deve ser com um enorme aperto no coracao que ela empurra repetidamente o filho do abismo até que ele aprenda a voar. Mas imagina a primeira vez que esse bicho acerta a asa no vento e voa? A sensacao de liberdade, o vento na cara, a paisagem la embaixo e a alegria desse animal? Entao, eu quero o mesmo pra voce, filha. Eu quero que voe e sinta toda a deliciosa liberdade que isso dá.

Joana ainda nao aprendeu a voar. Mas de tanto despencar altura abaixo já está pegando a posicao das asas. Seu pai, assim como na tardes de represa quando dava as cordenadas para ensinar-lhe a esquiar - bracos esticados, esquis paralelos, forca nas pernas - dá, agora de longe outras coordenados - nao escute os outros, escute voce e busque a sua independecia a sua forma. Ela espera que ele perceba que, apesar de ainda muito desastrados, seus movimentos estao mais seguros. E como naquela tarde depois da chuva, em que ela conseguiu deslisar sobre aguas da represa e sentir o sabor do vento no rosto, num dia qualquer, depois de uma longa dempestade, ela vai sentir um vento ainda melhor, só que dessa vez ao voar!

23 de nov. de 2008

Kotula, Negri, neve e outras bencaos

Sábado, 3h 15 da tarde. Saio para passar o resto do dia na casa de uns amigos. A previsao é de neve e os termometros estao abaixo de zero, mas o céu azul já tinha acabado com as minhas expectativas. Sem problemas, passar umas horinhas com o Casal Kotula-Negri já é sempre, em si só, um acontecimento especial.

Ela ficou grávida aos 17, era hippie em 70 e uma vez fugiu de casa para Paris - só pq ficava lá o único cinema que passava o filme que ela queria assistir. Ele se mudou para Londrina sozinho aos 16, foi da selecao de volei paranaense e viajou pelo mundo por anos com um grupo de artitas androgenos, fazendo a boca de muita gente cair. Quando eles se conheceram, durante uma turne do grupo de teatro Estupidas, do qual ele fazia parte, ela era uma alema linda, independente, dos olhos azuis. Ele um brasileiro dez anos mais novo cheio de charme e liberdade. Eles se apaixonaram e em poucos dias jutaram as trochas. Na Berlin ocidental de outros tempos -tao dourados como eles costuma dizer - tiveram o melhor cabaré de cidade, com tres apresentacao diárias que fariam qualquer corpo militar brasileiro da época decrater a prisao do grupo inteiro de artistas e fechamento da casa. Nesses 32 anos juntos, participaram de filmes, foram tema de documentários, viajaram por todo canto, viram o muro cair, a alemanha mudar, os netos crescer. Hoje sao minha companhia predileta.

Sempre que chego eles estao juntos pintando. Ela me oferece uma taca de vinho e ele um pega no baseado. Sentamos na sala que tem toda uma aurea especial. O aconchego que ele criou com o incrivel dom deixar as coisas exatamente do seu lugar se une as centenas de livros dela que cobrem a parede com obras que vao desde Kafka e Nietzsche até, porque nao, Coelho. E ficamos assim, por horas, conversando. Eles me contam sobre a guerra, os tempos de muro e todos as consequencias que nem imaginei sobre a sua queda. Me falam de vida, de amor e da busca do eu. Morro de rir com as histórias da época da Cabaré ou quando eles resolvem discutir as diferencas culturais entre alemaes e brasileiros. E quando a coisa ferve é um festival de línguas. Sem que eu acompanhe as mudancas, eles passam do alemao para o frances, do ingles para o italiano e de repente, quase sem querer, até escapa o portugues. Quando bate a fome nos mudamos para a cozinha. Enquanto ele prepara a comida - ontem, um prato tipico alemao - ela fica em volta tentando mudar a receita. A uma distracao dele, ela vira a lata de leite condensado na panela, enquanto ele grite: Chega Karine! Mas que teimosia! e ela olha pra mim rindo, com cara de menina moleca. Mas ela no fundo sabe que ele cozinha como ninguém. Meus jantares nos Kotula-Negri estao entre as melhor refeicoes que fiz. Mais um taca de vinho, outro baseado e a última garfada que resta na panela. Enquanto ela me conta que sua filha se chama Simone por causa de Beauvoir ele procura no quarto um video de mais ou menos 1980 com um show que fizeram chamado As Crises, que metia o pau em pelo menos meia dúzia de países, e que nao poderia ser mais atual.

Ela é de leao e ele também. Ela pintou um quadrinho, que ele pendurou na cabeceira da cama. Ele pintou outro quadrinho, que ela também colocou na cabeceira da cama. Ele sempre lhe dá rosas, as prediletas dela. Ela nunca deixa de lembrar dele quando ve anjinhos, que ele adora. Duas criaturas especias que me ensinaram sobre respeito, amor, amizade. Duas bencaos que estao me ajudando mais do que imaginam na formacao do eu que tanto vim buscar. Dois amigos para a vida, que quando voltar para o Brasil, nao vou ter coragem de deixar. Ontem avisei: Netuno, voce e a Karine voltam comigo.

Enfim ela se canca, dá um beijinho de boa noite nele e vai dormir. Enquanto ele bola o último baseado (impossivel competir com o Netuno, ele derruba qualquer um sem perder a linha) ele fala de um trecho do livro que está lendo, sobre as bencaos que a gente recebe da vida e como é só estar aberto para recebe-las. Hora de despedir. Visto meu caso de urso, pego o quadrinho que ganhei - que lógico, vai direto para a cabeceira da minha cama - e respiro fundo pra encarar meu caminho de volta para casa. Faz um baita frio, já é tarde - mais de 1h da manha - e o metro pode demorar pra chegar. Além do mais, moro exatamente do outro lado da cidade, no Ost, como eles chamam o antigo lado comunista. Abrindo a porta, o Netuno diz: tá tudo branquinho lá fora. Enquanto estava lá dentro nao percebi, mas nevou muito. Como se já nao tivesse recebido bencaos suficientes naquela noite, volto para casa por uma Berlin completamente branca. Com um sorriso de crianca que nao me saiu do rosto, chutei a neve e corri pelos carros fazendo bolinhas com as maos enquanto escutava Joao Gilberto. Assim como o casal Kotula-Negri, eu hoje acredito em anjos.

21 de nov. de 2008

Uma Tupiniquim em terras germanicas

Hoje, depois de acoradar, enquanto fazia meu café, olhei pela janela da cozinha e nao acreditei! Estava nevando! Nao era ainda aqueeeela neve, antes mesmo de chegar no chao derretia. Mas os floquinhos branquinhos, muitos deles, voavam pelo céu e eu mal podia acreditar! Sai correndo para a sala, abri a janela, e me estiquei, querendo encostar. Eu ria como crianca. Neve é uma alegria infantil, uma felicidade simples e tao gostosa. Principalmente para uma tupiniquim que está acostumada a calor e agua fresca. Quando me virei, minha vizinha me olhava como se eu fosse um E.T, ou melhor, um índio. E para uma india sul americana, neve é uma novidade quase tao grande como um dia foi o espelho. Quis mostrar pra alguem, contar o que estava acontecendo, dividir a alegria. Mas para os alemaes qual a novidade nisso? Mandei um email gritante pra pixote, que no comeco do ano teve a sorte de estar aqui durante 7 dos poucos dias que restam de neve em Berlin (antigamente tinha quase durante todo o inverno, mas com as mudancas climaticas, virou uma neve molhada e rara na cidade). E lógico, como no comeco do ano, quando ela ficou que nem o menininho de Esqueceram de mim apoiada na janela, quase chorando de ver aquele branco cair, ela entendeu de novo, como boa tupiniquim que é, a emocao que eu tava sentindo. Corri depois para ver a previsao do tempo: neve de verdade no sábado, domingo e segundo. Viva!!! É o inverno chegando, trazendo uma poesia fresca para meu caderninho de experinencias.

10 de nov. de 2008

A ilha desconhecida


"O homem nem sonha, que nao tendo ainda sequer comecado a recrutar os tripulantes, já leva atrás de si a futura encarregada das baldeacoes e outros asseios, também é deste modo que o destino costuma comportar-se connosco, já está mesmo atrás de nós, já estendeu a mao para tocar-nos o ombro, e nós ainda vamos murmurar, Acabou-se, nao há nada mais que ver, é tudo igual..."


"Gostar é provavelmente a melhor maneira de ter, ter deve ser a pior maneira de gostar"


José Saramago

O Conto da Ilha Desconhecida

8 de nov. de 2008

Migracao


Sábado passado fiz um passei delicioso. Além de visitar uma biblioteca, comer um dos melhores döners kebabs de Berlim e aproveitar o sol "quente" e o céu azul, já raros nessa época do ano, conheci melhor uma das regioes da cidade que mais concentra galerias. Uns pedacinhos calmos de rua no bairro Mitte, entre cafés, brechós e lojas de sapatos incriveis, bem no coracao da capital onde o muro passou exatamente em cima. Uma galeria atrás da outra. Entramos em tantas que até perdi a conta. Trabalhos em vidro, cobre, madeira, fotografias, quadros minis e gigantes. A cada esquina com um conceito diferente. E quando dei de cara com uma revistaria especializada em edicoes de arte, com publicacoes do mundo inteiro, pensei com uma alegria infantil e um sorriso escapado: é! Berlin é mesmo especial!


A exposicao Umbra Sumus da artista plástica sul africana Liz Crossley falava sobre migracao. Me sinto assim toda vez que saio na rua. Minha pele, meu cabelo, minha sobrancelha nao deixam dúvida. Ando praticamente com uma placa na testa escrito: Imigrante! Acho que por isso essa foi a exposicao que mais conversou comigo. O movimento está em todas as suas pecas... e gosto disso.


"... I have made a number of different series of drawings of people walking, running, moving, swimming, even crawling. The basis of life: Not only people, animals and birds, but plants too move to the places wich help them survive better (...) It seems to me that people have always moved and will always move. Very often the only way to survive is to flee..."

3 de nov. de 2008

... no país das maravilhas

"- Eu podia contar minhas aventuras... começando desde hoje de manha - começou Alice um pouco hesitante - Mas nao vale a pena contar desde ontem, porque eu era uma pessoa diferente"

Alguém explica?

-concordo com vc -disse a duquesa- e a moral disso é ; "seja aquilo que pareceria ser" ou, se quiser,isso dito de maneira mais simples: " Nunca imagine que não ser diferente daquilo que pudesse parecer aos outros que você fosse ou poderia ter sido não seja diferente daquilo que você tendo sido poderia ter parecido a eles ser de outro modo"

2 de nov. de 2008

O Fim do Império do Medo


Nasci! Vinda de um buraco negro, despenco num solo seco e quente. Em pleno silencio resurjo num sertao intocado. Já nao há qualquer sinal de sangue da mulher que me pariu, nem gemidos de dor. Nada! O Horizonte é infinito e absolutamente solitário.


Ainda estou caida, sentada, perplexa. À um acesso de nada, extravaso o que resta desse vazio. Estapeio o chao que me cerca e tudo que sobe é pó. Estou sentanda, mas alguma coisa urge em levantar.


Percebo o cessar do tremor que sentia. Uma cólica comeca a ferver o colo agora fértil. Uma luz explode ao centro arrastando calor por todo o corpo, até chegar à periferias de mim. Os pés formigam, rogam pelo movimento. As maos procuram os joelhos que, pressionados contra o chao, dao altura às pernas e diminuem a distancia para o céu. À um pestanejar a pele se alonga e humidece o olhar que danca. O ombros se despregam, os punhos se abrem. É o fim do império de medo.




1 de nov. de 2008

Porque hoje sou devota ao tempo. Amém

Oracao ao Tempo - Caeteando...

És um senhor tão bonito
Quanto a cara do meu filho
Tempo tempo tempo tempo
Vou te fazer um pedido
Tempo tempo tempo tempo...

Compositor de destinos
Tambor de todos os rítmos
Tempo tempo tempo tempo
Entro num acordo contigo
Tempo tempo tempo tempo...

Por seres tão inventivo
E pareceres contínuo
Tempo tempo tempo tempo
És um dos deuses mais lindos
Tempo tempo tempo tempo...

Que sejas ainda mais vivo
No som do meu estribilho
Tempo tempo tempo tempo
Ouve bem o que te digo
Tempo tempo tempo tempo...

Peço-te o prazer legítimo
E o movimento preciso
Tempo tempo tempo tempo
Quando o tempo for propício
Tempo tempo tempo tempo...

De modo que o meu espírito
Ganhe um brilho definido
Tempo tempo tempo tempo
E eu espalhe benefícios
Tempo tempo tempo tempo...

O que usaremos prá isso
Fica guardado em sigilo
Tempo tempo tempo tempo
Apenas contigo e comigo
Tempo tempo tempo tempo...

E quando eu tiver saído
Para fora do teu círculo
Tempo tempo tempo tempo
Não serei nem terás sido
Tempo tempo tempo tempo...

Ainda assim acredito
Ser possível reunirmo-nos
Tempo tempo tempo tempo
Num outro nível de vínculo
Tempo tempo tempo tempo...

Portanto peço-te aquilo
E te ofereço elogios
Tempo tempo tempo tempo
Nas rimas do meu estilo
Tempo tempo tempo tempo...

Festival de Humor

Quadrinho de André Dahmer, desrito por Rachel Nunes

"O encontro anual dos donos do mundo". Em Jasper, Texas, dois, digamos, empresários, conversam: "Se a guerra acabar, será o fim da chuvinha de dinheiro", ao que o outro retruca, "Não seja tolo, Lucius. Vamos fazer novas guerras em algum outro país pobre, como sempre"; o primeiro começa um raciocínio, "Mas e se os jovens protes...", sendo interrompido pelo segundo, que finaliza: "Os jovens estão tomando comprimidos para dançar, Lucius". Em Valais, Suíça, prossegue, com um empregado trazendo um informe para um senador: "Os homens da guerra ligaram, senador. Eles pedem educadamente por mais..." - e complementa o senador "...medo". Voltamos a Jasper, Texas, com um financista exultante: "O senador aprovou o banho de sangue!". No Cuquistão, duas horas depois, temos o quadro da guerra, neste caso a reprodução do famoso Guernica, de Picasso. No último quadro, novamente Jasper, Texas: "Deu certo, mas sinto medo de sufocar", diz um primeiro, com o um mar de dinheiro chegando até o pescoço. O outro finaliza, também quase coberto pelo dinheiro: "Sufoco é coisa de pobre, Lucius".

30 de out. de 2008

À Palo Seco


Talvez tenha sido só solidao. Ou quem sabe um bucadinho de saudade. E porque nao uma revolta momentanea contra a cultura germanica... ou um esgotamento do companhia massante com o eu. Pode ter sido TPM, cansaco, frio ou até falta do que pensar. Um pouquinho de tudo ou nada disso. O fato é que veio, mas já passou. E ninguém mais brasileiro que um cearense pra me ajudar a extravasar. Dale Belchior!


Se você vier me perguntar por onde andei

No tempo em que você sonhava

De olhos abertos lhe direi

Amigo, eu me desesperava


Sei que assim falando pensas

Que esse desespero é moda em 73

Mas ando mesmo descontente

Desesperadamente eu grito em português


Tenho 25 anos de sonho e de sangue

E de América do Sul

Por força desse destino

O tango argentino me vai bem melhor que o blues


Sei que assim falando pensas

Que esse desespero é moda em 73

Eu quero que esse canto torto

Feito faca corte a carne de vocês

What I’ll Miss About George W.


O jornal americano The New Yorker fez um apanhado de charges divertidíssimas sobre o "revolucinário" presidente americano, o único que consegui contrariar a teoria de Darwin. Parabéns Bush, os humoristas vao sentir sua falta....


Dom von Bibilim


29 de out. de 2008

...

"E basta contar compasso
e basta contar consigo
Que a chama não tem pavio
De tudo se faz canção
E o coração
Na curva de um rio, rio..."

28 de out. de 2008

Amigo é Para Essas Coisas

... mas ela é para todas.
Se soubesse como a amo... Eita amiga boa, cada vez mais irma.
Obrigada, bonita, pelo presente e pela memória.


- Salve!
- Como é que vai?
- Amigo, há quanto tempo!
- Um ano ou mais...
- Posso sentar um pouco?
- Faça o favor
- A vida é um dilema
- Nem sempre vale a pena...
- Pô...
- O que é que há?
- Rosa acabou comigo
- Meu Deus, por quê?
- Nem Deus sabe o motivo
- Deus é bom
- Mas não foi bom pra mim
- Todo amor um dia chega ao fim
- Triste- É sempre assim
- Eu desejava um trago
- Garçom, mais dois
- Não sei quando eu lhe pago
- Se vê depois
- Estou desempregado
- Você está mais velho
- É
- Vida ruim
- Você está bem disposto
- Também sofri
- Mas não se vê no rosto
- Pode ser...
- Você foi mais feliz
- Dei mais sorte com a Beatriz
- Pois é
- Pra frente é que se anda
- Você se lembra dela?
- Não
- Lhe apresentei
- Minha memória é fogo!
- E o l´argent?
- Defendo algum no jogo
- E amanhã?
- Que bom se eu morresse!
- Prá quê, rapaz?
- Talvez Rosa sofresse
- Vá atrás!
- Na morte a gente esquece
- Mas no amor agente fica em paz
- Adeus
- Toma mais um
- Já amolei bastante
- De jeito algum!
- Muito obrigado, amigo
- Não tem de quê
- Por você ter me ouvido
- Amigo é prá essas coisas
- Tá...
- Tome um cabral
- Sua amizade basta
- Pode faltar
- O apreço não tem preço, eu vivo ao Deus dará

Composição: Silvio Silva Júnior/Aldir Blanc

25 de out. de 2008

Um bucadinho de calor

Uma brisa ameaca falar de ti. Mas nao venta....

Os passarinhos,
Pardais como o verao extintos
Nao falam mais ao ouvido faminto

Enquanto isso tudo seca
O outono, por aqui tao dourado e fantasioso
Grita, ensaia, preve o que está para congelar tudo.

As ultimas folhas vermelhas forram o chao com um manto melancolico
Quase romantico, mas nao.
A unica coisas que dita

Sao passos solitarios
Que rossam infantis
Na descoberta de um novo lugar

Mas a varredura da estacao
levou tambem tudo que me era rubro
As folhas, a barba, o amor...

Por ande será que voam?
Oh brisa calada
Ve se assovia, mande um bucadinho de calor

Salve

Oh! que caminho tão longe
Que ninguém se perde nele
Penando tanto arrudeio
Por causa das luminária
Das mães de Deus das Candêa

Salve
A vós brandamos os degregados filhos de Eva
A vós suspiramos gemendo e chorando neste vale de lágrimas
Ei-a pois advogada nossa
Esses vossos olhos Misericordiosos
A nós Volvei

Meu São João meu São Joãozinho
Meu santinho protetor
Mandai pela voz do vento
Notícias do meu amor

Cordel Do Fogo Encantado

24 de out. de 2008

O que nao mata, engorda. E o que nao alimenta, diverte.

Jorge Alberto se deu a liberdade de publicar - e brilhantemente traduzir - a selecao feita por um jornal ingles sobre as grandes bizarices do mercado editorial. Eu, como li, ri, e reli, resolvi postar aqui também. Mas nao rolou, deu pau na maquina. Os homens nao entendem as mulheres e, parte delas, nao entem as maquinhas. Como eu faco parte dessa parcela, resolvi nao brigar com a minha. Fica ai a dica divertida para mais um blog que entra na lista dos favoritos.

O blog: http://pt-br.wordpress.com/tag/mercado-editorial/

A materia: http://recantodaspalavras.wordpress.com/2008/09/08/os-28-piores-ou-mais-estranhos-livros-e-suas-capas/

O eu que nao se cansa de procurar

Meu nome é eu, mas isso nao tem forma, apenas um conteudo mutavel. Muitas vezes o exterior nao acompanha o interior. Tropeco e levanto, sempre com a esperanca de que dessa vez amprenderei a andar.

Meu nome é branco, mas isso nao significa vazio. No presente tento esquecer o passado para finalmente deixa-lo morrer em paz. Só assim reiventarei o que me aparece em cada novo minuto do eu no mundo. É tempo de limpar as gavetas, infrentar as baratas e jogar fora o que já nao serve mais, sem dor, remorso ou falsas nostalgias.

Meu nome é sou e isso nao tem tamanho. Ora fica pequeneninho, ora é um gigante desastrado que ainda nao sabe muito sobre delicadezas. Observo toda a construcao e reavalio a posicao dos tijolos que muitas vezes foram colocados de forma aleatoria e influenciada. Quais as decisoes que tomei com real autenticidade?

Meu nome é nada. É tudo. E é voce tambem. As vezes sou uma multidao angustiante, as vezes sou um vazio apatico. Ha muito nao sinto uma alegria histerica. E isso me faz realmente feliz.

Meu nome é lá, mas estou aqui. Me mudei para onde vim, mas do que é meu, por ser de lá, nao abro mao. Meu nome é aqui, apesar de ser de lá. Vim de lá e mudei. Sou aqui mais do que conseguia ser por lá.

Meu nome é Fernanda.., F-E-R-N-A-N-D-A! E soa ainda estranho, mas foi a primeira vez consegui gritar.
Meu nome é medo, mas isso nunca teve tanta coragem.
Meu nome é saudade, mas da boa, sem nenhuma vontade de voltar.
Meu nome é busca. E quando encontrar, agarrarei com forca, embalarei nos bracos e levarei para casa. "Voltarei! A ser que nunca fui"

16 de set. de 2008

tempos modernos - o hino

Eu vejo a vida melhor no futuro
Eu vejo isso por cima do muro
de hipocrisia que insiste em nos rodear
Eu vejo a vida mais farta e clara
Repleta de toda a satisfação
Que se tem direito
Do firmamento ao chão
Eu quero crer no amor numa boa
E que isso valha prá qualquer pessoa
Que realizar a força que tem uma paixão
Eu vejo um novo começo de era
De gente fina, elegante e sincera
Com habilidade pra dizer mais sim do que não
Hoje o tempo voa amor
Escorre pelas mãos
Mesmo sem se sentir
E não há tempo que volte amor
Vamos viver tudo o que há prá viver
Vamos nos permitir

Lulu Santos

13 de set. de 2008

Nessa canoa furada

E ai? Como vai voce? Tenho falodo menos as minhas coisas. Nao que as pessoas aqui nao troquem, é que trocam em silencio. E isso é tao maior. Assim como eu, pessoas comuns, filhos de deus. Meu coracao está feliz, bate, vive. Nessa canoa furada. remando contra a maré. Hoje, voltando de uma cerveja solitária no cassiopeia, tive vontade de chorar. Nao um choro triste, muito menos desesperado, mas sim um choro de alívio, de quem nadou e nao morreu na praia. Meu pai uma vez me disse, na época que era louca por Janis Joplin, que ela morreu tentando passar para o lado de lá. Morreu, mas morreu nadando. Meu lindo, Cazuza, se dizia nadar contra a corrente só pra exercitar. Nao acredito, acho que era para sobreviver... Hoje me senti chegano do lado de lá, de onde todos fogem, no comeco, no puro, no limpo. Nao sei mais falar, nem sei mais... nao sei. Nao acredito em nada, até duvido da fé. Senti meus pés, depois de tanto, tocarem o chao. Busquei, como cantavam los hermanos, alguem que nem sei quem sou. Nao sei se me encontrei onde cheguei e ainda ha toda uma ilha a explorar, mas expulsei muitas vozes que nao eram minhas. Está vazio, mas esse vazio é mais eu. E nessa vida nao quero nada, nem luxo, nem lixo. Meu sonho é ser imortal. Só quero ser eu, e me sentir confortável nesse corpo que é a minha única real casinha. Meu amor me deu ontem a liberdade que hugo um dia deu a Anais Nin. Nao quero ninguém. Quero eu. E ele me deu. O planeta Netuno, como diz a Pi, me ensinou a perder-me para me encontra. Nesse tempo que meu pai me deu, nesse espaco que encontrei, silencie o mundo e escutei a alma. A carol tem razao, sou um pouqinho de tudo que passou por mim, mas preciso voltar a minha fonte para entender como tudo isso foi processado. Entao, involuntariamente, voltei a ser crianca, com a curiosidade e a coragem de quem nao conhece os perigos do mundo. Faco barulho com qualquer instrumento que me emprestem, faco desenhos infantis com um pincel e uma latinha de naquim, sorrio a quem passa por mim. Sem esperar reconhecimento, afinal de contas, ele nao virá. Nao tenho idade mais para isso. Nao aos olhos dos que envelheceram na alma. E aqueles que tem o espirito jovem, nada diriam, nao há o que dizer, experimentar é normal, é uma brincadeira, e nao quer nada além disso. É! è na solidao que ficamos nossos amigos. Nunca imaginei isso e hoje o senti. E quando voltar a multidao, quero só saude amor, pra poder gozar contino no final. E eu renascerei ai, só que diferente.

9 de set. de 2008

Saudades de voce tambem (resposta)

Se a tristeza vem só as vezes, é só um bucado, use-a pra fazer um samba.
E quando se sentir poderosa, tempere com humildade, que é um dos segredos da vida.
Quando o ovário doer, Rita Lee traduz: diga que nao provoque, é bom lembrar que somos cor de rosa choc. Nascer mulher é um presente, um privilégio, nao um castigo.
Quando sentir medo, tente entender se ele faz sentido ou se é apenas um auto boicote. E lembre-se: quanto mais medo, menos amor. O existencialismo é arcar com as consequecias da escolha. Qual dos dois voce quer pra voce?
Se voce gosta de fazer as coisas, nao se procupe com o final. Voce está aproveitando o caminho, que traz muito mais que a chegada.
Sair correndo, se esconder num buraco? Talvez voce precise apenas se reservar um pouco do mundo. Se guarde por um tempo no seu canto, onde voce se sinta a vontade pra transbordar tudo aquilo que é, sem se procupar com os olhos da reprovacao ou com a tentacao de cair na anulacao do eu para se sentir aceita pelo outro. E nesses momentos, grite bem alto suas palavras de ordem, as filosofias que acredita, para que voce de crédito a elas. Cada pessoa, uma verdade. Se voce confiar na sua, se sentirá mais tranquila com a dos outros também.
Seja sua melhor amiga, Bibilim, e sinta-se bem acompanhada para fazer as suas coisas a sós também.
Pense que se esquecesse o portugues, perderia também o privilégio de ler os originais de Fernando Pessoa.
Nao entre na minha: nada de se cobrar de mais, nem de menos. Gaste esse tempo fazendo.
Saudades é bom, minha querida. Também sinto suas. É um sinal de que somos importantes uma para a outra.
Nao se escravise, voce se preparou para isso. Coloque suas 50 coisas em primeiro lugar, se sobrar tempo voce faz o restante, se nao, paciencia.
Seu quarto nao é mais seu? Coloque-o abaixo e faca com que seja. Voce é boa nisso. Fez isso por mim, agora faca por voce.
Tambem estou com saudades de voce, do jeitinho que voce é. Por isso nao se contamine, nao se polua.
Guarde com carinho tudo que voce construiu aqui, tudo que é tao seu.
Como diz Caetano, o melhor lugar é ser feliz

Saudades de voce...

As vezes sinto picos de tristeza..., as vezes me sinto poderosa, as vezes doi meu ovário, e procuro esquecer.
As vezes tenho medo....
As vezes gosto de fazer coisas e depois odeio tudo que faço.
Gosto de ler, mas na maioria das vezes minha cabeça doi.
To com vontade de sair correndo, de me esconder em um buraco....
Tenho vontade de gritar palavras de ordem... Da filosofia que acredito.
tenho saudades de conversar coisas bobas e passar a noite toda só fazendo o que gosto, com quem eu gosto.
As vezes quero esquecer de falar portugues...
Me frusto a maioria das vezes comigo, talvez eu me cobre de mais e ao mesmo tempo de menos,
Estou com saudades, estou me sentindo sozinha mesmo embebida de mim mesmo...
Me sinto estranha no meu quarto onde as coisas nao estão onde eu determinei.
Me sinto uma escrava, de trezentas e cinquentas coisas que tenho que fazer sendo apenas 50 as minhas coisas
as vezes procuro um numero na minha agenda pra conversar, e nao acho ninguém.
Estou com saudade, de você, de mim, de ser um pouquinho mais eu...

Saudades chuchu
Me escreva estou com saudades

Bia

Carta da Bibilim

7 de ago. de 2008

SIM

Preciso não dormir
Até se consumar
O tempo da gente
Preciso conduzir
Um tempo de te amar
Te amando devagar e urgentemente
Pretendo descobrir
No último momento
Um tempo que refaz o que desfez
Que recolhe todo sentimento
E bota no corpo uma outra vez
Prometo te querer
Até o amor cair
Doente, doente
Prefiro então partir
A tempo de poder
A gente se desvencilhar da gente
Depois de te perder
Te encontro com certeza
Talvez num tempo da delicadeza
Onde não diremos nada
Nada aconteceu
Apenas seguirei
Como encantado ao lado teu.

29 de jul. de 2008

Berlin à Primeira Vista


Quando não tinha nada, eu quis
Quando tudo era ausência, esperei
Quando tive frio, tremi
Quando tive coragem, liguei...
Quando chegou carta, abri
Quando ouvi prince, dancei
Quando o olho brilhou, entendi
Quando criei asas, voei...
Quando me chamou, eu vim
Quando dei por mim, tava aqui
Quando lhe achei, me perdi
Quando vi você, me apaixonei...

25 de jul. de 2008

21 de jul. de 2008

Tudo Vira Bosta

O ovo frito, o caviar e o cozido
A buchada e o cabrito
O cinzento e o colorido
A ditadura e o oprimido
O prometido e o não cumprido
E o programa do partido
Tudo vira bosta

O vinho branco, a cachaça
O chopp escuro
O herói e o dedo duro
O grafite lá no muro
Seu cartão e o seu seguro
Quem cobrou ou pagou juro
Meu passado e meu futuro
Tudo vira bosta

Um dia depois
Não me vire as costas
Salvemos nós dois
Tudo vira bosta

Filé mignon, champignon, Dom Perignon
Salsichão, arroz, feijão
Mulçumano e cristão
A Mercedes e o Fuscão
A patroa do patrão
Meu salário e meu tesão
Tudo vira bosta

O pão-de-ló, brevidade da vovó
O fondue e o mocotó
Pavarotti e Xororó
Minha éguinha pocotó
Ninguém vai escapar do pó
Sua boca e seu loló
Tudo vira bosta

Um dia depois
Não me vire as costas
Salvemos nós dois
Tudo vira bosta

Um dia depois
Não me vire as costas
Salvemos nós dois
Tudo vira bosta

A rabada, o tutú, o frango assado
O jiló e o quiabo
Prostituta e deputado
A virtude e o pecado
Esse governo e o passado
Vai você que eu tô cansado
Tudo vira bosta

Um dia depois
Não me vire as costas
Salvemos nós dois
Tudo vira bosta
Um dia depois
Não me vire as costas
Salvemos nós dois
Tudo vira bosta

Tudo vira bosta
Tudo vira bosta
Tudo vira bosta
Tudo vira bosta
Tudo vira bosta

Uma das minhas Magas Mestras (como diria uma amiga)
Rita Lee

24 de mai. de 2008

Alma em crescimento

Minha alma está se transformando. Uma brisa leve e paciente passa pelos meus morros movimentando delicadamente, como num ballet, graos, que vao formando novas dunas, deixando outros graos, outrora tao enterrados e esquecidos, a vista. Lentamente percebo uma nova paisagem, o horizonte se alongando e o espaco a minha volta tornando-se de uma vastidao tamanha, que percebo a pequenes da vida. Minha alma encardida banha-se, delicia-se com o novo frescor. Sinto-a como um vapor quente e, a um suspiro profundo, faco-a inflar. Ainda tenho pés de chumbo, rodelas negras pousadas sob as pálpebras e a palidez de um corpo assustado. Ainda ando rápido como um perceguido, tremo na solidao da noite e tenho os olhos acuados, medrosos no passeio pelo todo. O meu eu gélido ainda me mancha de colera, abafando o ainda frágil eu do amor. Mas esses vícios e medos do corpo, ainda tao redundantes em mim, estao, mesmo que na folga da eternidade, se desmanchando. A cada rolar de grao saboreio um novo alívio. Meus ombros, queixo, costas, busto e pés já nao sofrem tanto com a pressao. Sou eu, meu amor, tornando-me grande para voce.

22 de mai. de 2008

Espetáculo

"Tres pancadas no palco. Um rufo de timbales comecou, os instrumentos de cobre explodiram em acordes, e o pano, erguendo-se, descobriu uma paisagem"

Em homenagem ao meu artísta, hoje ja tao acostumado aos palcos.
Trecho de Madame Bovary de Gustave Flaubert

6 de mai. de 2008

Fase flutuante

Estou flutuando dentro de mim. As vezes bate uma insegurança de sentir os pés longe do chão, mas na maior parte do tempo me sinto nadando em nuvens. Daqui, de cima de mim, tudo lá nos fundos fica pequenininho e como tenho medo de alturas, há horas em que as minhas pernas e mãos tremem e me coração corre. Mas ai vem o meu eu amor, pega na minha mão e me pede pra esperar dizendo: quando o vento é forte, o melhor e parar e esperar. Principalmente quando se está flutuando. Assim não saio voando, pelo contrário, aproveito a brisa que, com muito esforço, torna-se leve, refrescando meu rosto. Tenho passado por cima de mim delicadamente, flutando. Daqui de cima meus pulmões se abrem e respiro como se estivesse em meio a eucaliptos. Talvez tenha me confundido. Talvez essa seja a verdadeira insustentável leveza de ser. Eu, que antes não era, estou descorbindo um mundo no mundo e descobrindo esse mundo dentro de mim. Não quero ter medo de vida e muito menos levá-la como alguém que espera a morte. Quero goles dela que refrescam, quero banquetes dela que estufam, quero me lambuzar toda, quero nascer faminta e morrer satisfeita todos os dias. Mas quero tudo isso sem afobação... Estou flutando dentro mim, sou feita de nuvens. Mas sou filha do vento...

25 de abr. de 2008

Presente de uma amiga nova em folha

Poética

"Estou farto do lirismo comedido
Do lirismo bem comportado
Do lirismo funcionário público com livro de ponto expediente
protocolo e manifestações de apreço ao Sr. Diretor.
Estou farto do lirismo que pára e vai averiguar no dicionário
o cunho vernáculo de um vocábulo.
Abaixo os puristas
Todas as palavras sobretudo os barbarismos universais
Todas as construções sobretudo as sintaxes de excepção
Todos os ritmos sobretudo os inumeráveis
Estou farto do lirismo namorador
Político
Raquítico
Sifilítico
De todo lirismo que capitula ao que quer que seja
fora de si mesmo
De resto não é lirismo
Será contabilidade tabela de co-senos secretário do amante
exemplar com cem modelos de cartas e as diferentes maneiras de agradar às mulheres, etc.
Quero antes o lirismo dos loucos
O lirismo dos bêbados
O lirismo difícil e pungente dos bêbedos
O lirismo dos clowns de Shakespeare- Não quero mais saber do lirismo que não é libertação."

Manuel Bandeira

Hoje vai ter uma festa, bolo, guaraná, muitos doces pra vc

Eeeeee! É o meu aniversário. E apesar de não poder os amigos receber, vamos festejar. Eu e todos os eus aniversariantes que existem dentro de mim. Estou feliz, muito feliz. Normalmente não gosto, normalmente não é bom. Mas hoje, esses eus darão uma trégua. Temos uma coisa comum, é o meu aniversário. Hoje é diferente, hoje tenho esperança. Hoje estou muito feliz e me deixo pensar que hoje é o meu dia. Pouco depois da meia noite, lembrei que não tinha me dado os parabéns. E disse: "Fê - como raramente ouso me chamar, já que não tenho e nem me dou esse tipo de intimidade - Feliz aniversário!" E eu sorriu. Abracei-me, me beijei. Hoje é um aniversário feliz. Há muito tempo briguei com uma amiga importante. Fizemos há pouco as pazes e as coisas estão ainda meio estranhas entre nós. Mas não importa. Estamos felizes, porque finalmente me sinto feliz por mim. Eu sou minha amiga e vamos comemorar isso hoje também. Desejo-me toda felicidade do mundo, muita saúde (de mente e de corpo), muita sorte e muita força. Muito amor e pouco medo. Que eu cresça, me encontre, me equilibre. Que eu aprenda a lidar com a dor sem fazer dela algo maior do que realmente é, e que no final ganhe sempre alguma coisa dela . Que eu descubra o valor de todas as felicidades e tenha sabedoria para vivê-las. Que eu aprenda cada vez mais o que é respeito e o que é caráter. E que eu entenda que amor e sabedoria são a mesma coisa. Que a minha alma se abra cada vez mais pra perceber os milagres do mundo. Que eu consiga ouvir mais e falar menos. E quando falar, que o tom da minha voz seja tranqüilo e as palavras pensadas. Que eu me deixe rir mais, que eu aprenda sobre responsável. Que eu saiba sempre cultivar, cuidar e regar o amor dos meus amigos, da minha família e do meu amor. Que eu possa sempre contar comigo e que enfim eu seja! Sim, hoje é um feliz aniversário!

17 de abr. de 2008

Para uma amiga cheia de graca

Saúde

"Me cansei de lero-lero
Dá licença
Mas eu vou sair do sério
Quero mais saúde
Me cansei de escutar
Opinião
De como ter um mundo melhor
Mas ninguém sai de cima
Nesse chove-não-molha
Eu sei que agora
Eu vou é cuidar
Mais de mim!...

Como vai? Tudo bem!
Apesar, contudo
Todavia, mas, porém
As águas vão rolar
Não vou chorar
Não!
Se por acaso morrer
Do coração...
É sinal que amei demais
Mas enquanto estou viva
Cheia de graça
Talvez ainda faça
Um monte de gente feliz..."

Eita amor bom

"Há momentos na vida em que sentimos tanto a falta de alguém que o que mais queremos é tirar essa pessoa de nossos sonhos e abraçá-la."

Ela

Notícias

Querida, você vem me cobrando notícias e eu desconversando. Mas nao fique triste, nao as nego só a você. Na verdade, só estou economizando palavras porque nao ando sabendo como gastá-las. É como voce disse, estou numa brisa difícil de verbalizar, tudo é muito abstrato. Berlin está acontecendo em mim muito mais que eu nela. É uma cidade ainda muito maior do que eu, forte, cheia de personalidade. Estou como pupila dela, encantada, meio sem saber o que fazer. Uma vez, ainda em Sao Paulo, fui numa exposicao de fotografia que buscava as rugas nos rostos das pessoas. Era uma celebracao as marcas, a história... Sinto Berlin assim. Ela passou por muita coisa e por isso é cheia de marcas, mas nao tem vergonha delas, pelo contrário, as escancara. É uma senhora maluca, divertida, cheia de histórias pra contar. Se ela é a nova Meca das artes? Já nao sei te dizer. Sei apenas que é toda colorida, contraditória, gritante. Ela respira artes sim, muita liberdade e muita expressao. Mas nao fica se gabando para o mundo. Voce precisa vir aqui conhece-la. Estamos te esperando. Beijinhos

16 de abr. de 2008

Nel mezzo del camin... ao meu gordinho

Cheguei. Chegaste. Vinhas fatigada
E triste, e triste e fatigado eu vinha.
Tinhas a alma de sonhos povoada,
E a alma de sonhos povoada eu tinha...

E paramos de súbito na estrada
Da vida: longos anos, presa à minha
A tua mão, a vista deslumbrada
Tive da luz que teu olhar continha.

Hoje, segues de novo... Na partida
Nem o pranto os teus olhos umedece,
Nem te comove a dor da despedida.

E eu, solitário, volto a face, e tremo,
Vendo o teu vulto que desaparece
Na extrema curva do caminho extremo.

(Poesias, Sarças de fogo, 1888.) Olavo Bilac

15 de abr. de 2008

sido

Tenho sido como quem anda por de baixo d'água. Além do mais, estou me transbordando....
ahahahaha Meu deus, quanta sensacao!

14 de abr. de 2008

Quero uma leveza sustentável

Para mim é instutentável a leveza de não ser. É insustentável o cotidiano maquinado e também o pensamento ocupado em apenas se tornar e nunca ser. Sempre se tornar e nunca ser. O mundo, em sua maioria, não é. E, por não ser e não se saber não sendo, conta ainda com certa leveza. Mas para mim, que me descobri não sendo, agora que sei que não sou essa leveza se tornou insustentável. Eu não sou. Não me sinto existindo e não me reconheço refletida no espelho.  Não nego a importancia de querer se tornar, mas quero ser o tempo todo e essa é a para mim a maior e mais constante forma de transformação. Quanto mais sou, mais me transformo, quanto mais quero me tornar, menos sou. Não quero me ocupar tanto em me tornar a ponto de não ter mais tempo de me questionar. Quero o ócio para pensar e pensar e me confundir e pensar mais até não aguentar, até me sentir enlouquecida, até adormecer.  Já aprendi que não se deve fazer essa pergunta, mas ultimamente ela é tudo que se sabe de eu. Sou apenas bagunça, um confuso e ilegivel borrão. E tudo que resta de ser é ela, a pergunta que não cala nunca. Sinto-me cada vez mais corcunda. É insustentável a levesa de não ser, assim como é sufocante a busca pela existencia. Ainda não existo para mim, mas andei ouvindo que eu é maior que eu. Meu Deus, quem será eu....?

Há sempre um acontecendo

O milagre veio de longe. Emprestei meu casaco para minha prima, que foi fazer uma viagem por Portugal. Uma noite ela estava sentada com uma amiga num bar e um senhor passou deixando uma folha e dizendo: "é um texto muito bonito, fiquem com ele pra voces". Depois de ler, ela colocou o  papel no bolso e se esqueceu completamente dele. 

Foi assim que um anjo colocou um consolo no meu bolso. E numa manhã de cinzas, em que chorava a morte de um eu que nem se quer existiu, o texto encosta na minha mão e me fala sobre repouso, transformando o dia em azul antes mesmo que eu o desse tempo. É, os milagres são como guinomos e fadas, só pode ver quem neles acredita. 

Um achado


Era domingo e eu estava fora. De repente, não sei se por cansaço de corpo ou se por cansaço de alma, me bateu uma angústia. Nada que me matasse, mas entendi que eu me pedia para ir. Resolvi ter coragem de medo e fiz um caminho diferente. O tempo estava agradavel, a noite estava caindo, eu tinha música. Me perdi, me achei. Senti medo, respirei. Ensaiei chorar, sorri. Quis gritar, calei. Falamos. Quase não me lembro sobre o que, apenas sei que eu eramos muitos. Cheguei e dormi. Acordei indifenrente a mim, exausta de tanto tentar ser. Tomei um banho, tomei um café, tomei coragem e sai. Já no ponto de onibus, acendi um cigarro. Enquanto pensava em como um dia cinza poderia terminar azul, coloquei a mão no bolso e senti um papel. Era um guarda-napo estreito que levava um texto sem assinatura e que seguia exatamente assim:

"Estive doente, doente
de tudo, dos olhos
da boca, dos nervos até,
dos olhos que viram
mulheres perfeitas
da boca que diz 
poemas em brasa,
dos nervos manchados
de fumo e café
estive doente, doente
de tudo, estou em
respouso, não posso
escrever, eu quero
um punhado de 
estrelas maduras,
eu quero a doçura
do verbo viver..."

Foi o primeiro milagre do dia...

11 de abr. de 2008

Ele é Pessoa. Eu, por enquanto, Ninguém

"Posso ter defeitos, viver ansioso e ficar irritado algumas vezes, mas não esqueço de que minha vida é a maior empresa do mundo. É que posso evitar que ela vá a falencia. Ser feliz é reconhecer que vale a pena viver, apesar de todos os desafios, imcompreensões e momentos de crise. Ser feliz é deixar de ser vítima dos problemas e se tornar um autor da própria história. É atravessar desertos fora de si, mas ser capaz de encontrar um oásis no recondito de sua alma. É agradecer a Deus a cada manhã pelo  milagre da vida. Ser feliz é não ter medo dos próprios sentimentos. É saber falar de si mesmo. É ter coragem para ouvir um não. É ter segurança para receber uma crítica, mesmo que injusta. Pedras do caminho, um dia vou construir um castelo."

Fernando Pessoa

Tenho defeitos, vivo ansiosa e me irrito. Entre outras coisas, reconheço que vale a pena viver. Ora escrevo histórias, ora me transformo em vítima, mas andei revisando este final. Tenho épocas de secas e de enchentes dentro de mim. Ainda peço mais do que agradeço, mas andei experimentando agradecer e quase não consegui parar. Sinto medo do que sinto, sinto medo de sentir medo. Não buscava sim por medo do não. Hoje começo a ter coragem de medo,  tornando-me um pouco mais segura. Pedras no caminho, eu também vou construir um castelo. 

Fernanda (por enquanto) Ninguém

Ela sempre sabe tudo

"Minha força está na solidão. Não tenho medo nem de chuvas tempestivas nem de grandes ventanias, pois eu também sou o escuro da noite". 

Uma cena de amor


Picasso e Odette
Sim, ando romantica...

10 de abr. de 2008

Hosróscopo do mes parte I, com perfeição

Marte em Cancer promete agitar seus sonhos e a sua imaginação, indicando com tranquilidade os caminhos por onde voce deve andar nestes primeiros meses do novo ano astrológico. Entre 20 e 24/04, o planeta da coragem e da luta pela vida forma excelente aspecto com Urano, que, por sua vez, permance em Peixes e envia novas inspirações e esperanças. É uma excelente oportunidade de se libertar do passado, conhecer pessoas que enriqueçam sua vida intelectual e entrar em um clube, organização ou entidade na qual possa agir a favor de outras pessoas. Voce pode crescer com os outros indivíduos.


Horóscopo do dia

Para ser livre, muito esforço vale. Um deles é o de encarar seu medo de ser pioneira e de seguir solitária por trilhas inexploradas. Essa é a pauta do dia. Voce se valorizará mais se fizer isso. Ao se valorizar, terá mais certezas e assim confiará mais em seus valores para chegar a liberdade a que aspira. Sorte

8 de abr. de 2008

Saudade: uma doce companhia

Minha saudade é indisivel porque não é comum. Ela raramente bate melancólica, mas inegavelmente, de certa forma, nostálgica. Ela deixou de ser uma falta e tornou-se um buraco. Ela não se manifesta na solidão, mas na percepção da importancia de um membro do corpo agora ausente. Ela não nasce de uma necessidade, é fruto doce de um apego, de uma cumplicidade. Ela faz carinho durante o silencio e machuca em meio a multidão. Ela é mansa e quente nos momentos de paz, mas ferve na raiva que tenho do mundo quando não vejo nele voce. Ela não sente apenas tudo aquilo que já foi, mas também traz a falta do que ainda está por vir. A saudade é minha única companhia romantica, porque não sinto apenas saudades de voce. Sinto saudades de mim quando estávamos juntos e do um só que somos nós dois. Na saudade sinto voce, mesmo longe, minha melhor companhia.

Não quero mais o faz de conta

"...fiz de conta que de mim não estava em silencio alvíssimo escorrendo sangue escarlate, ..., fiz de conta que eu não ficava de braços caídos de perplexidade quando os fios de ouro que eu fiava se embaraçavam e eu não sabia desfazer o fino fio frio, ..., fiz de conta que eu não estava chorando em silencio..." E enquanto fazia de conta que não me dava conta, literalmente não me dava conta de que passava então pela voracidade de viver. Quando finalmente me dei o tempo de reparar na mancha rubra, viva e escandalizante que se formava aos meus pés senti o alívio e a paz de me saber viva. Porque se poupar da dor é também se poupar de vida. A dor é um sinal dado pelo corpo. Temer a dor e temer-se a si mesmo. E negar-se a si enfraquece o espírito.

Não se engane: não me cabe a depressão. Se me encontro com a dor é por puro interesse, pois quem quero de verdade é a felicidade em todas as suas dimensões.

6 de abr. de 2008

Amo, logo existo

Saudades daquele que faz meu coracao sorrir.

2 de abr. de 2008

Minha charmosa Berlin

Matéria de 01/04 do estadão. 
Apesar de não concordar com tudo, a matéria é divertida e conta um pouqinho da minha "casinha". Quem quiser ver a materia inteira: www.estadao.com.br/suplementos/not_sup149143,0.htm

Berlim - Ela tem 771 anos, mas um corpinho de 19. Moderna, linda e descolda, chega a ser exibicionista. Adora brechós, bistros charmosos e música eletronica. Poderia se chamar Londres, Paris ou Madrid, mas foi batizada de Berlim, e arrebata seus pretendentes, que nem suspeitam do poder de atração dessa "garota". Como deve ser acordado entre amantes recentes, releve seu passado - pouco interessa. O que vale nessa excitante descoberta é o que ela tem a oferecer de agora em diante. E é muito, muito mais do que voce pode imaginar.

Como toda jovenzinha, talvez lhe pareça um pouco confusa e ainda inconsciente de seu poder de atração. Seus segredos mais ítimos - e, por isso mesmo, mais interessante - ainda pertencem a poucos, talvez só a quem tem o direito de desfrutar de sua companhia diária. Vale perguntar, ninguém vai negar-lhe tão importante informação. Ela não é sisuda, muito menos certinha. Não é cinza e nem chora seu passado difícil.


1 de abr. de 2008

Não sou!

"a vida é muito perigosa, pois em pleno dia se morre". E quando acho que encontrei algo, me coloca a frente do que achei e despenco! Me perco no que era indo além do que realemente sou. Desculpem-me, me precipitei. Era de manhã e a manhã sempre nos dá o ar de que podemos tudo.

O mundo está ao contrário e ninguém reparou

Cegos por opção e por vício. Fracos. O constante trabalho de evitar a dor. Mas ninguém se livra da dor impunimente. Quem o faz, sofre sempre, de poquinho em pouquinho. Por que a vida não é o que se vende em anúncios publicitários. Ela é muito maior e vai muito mais fundo. Exige toda a energia que se puder dedicar a ela. E os produtos? Não servem de nada. E o que não ajuda, atrapalha! Dedicar-se em ser o tempo todo é desgasante. O sofrimeto é gigantesco, mas a felicidade vem em igual propoção. Porque a vida é um eterno milagre. Como diz o meu amor, basta olhar em volta: existe sempre alguma coisa incrivelmente mágica acontecendo. 

28 de mar. de 2008

“Abortagem“

Tenho pressa! Sim, ando sempre atrasada comigo. Acordo com pressa e quero logo estar no banho. Quando no banho, tenho pressa de estar pronta e então de pegar o onibus e chegar o quanto antes na faculdade sem mais conseguir esperar pelo fim da aula para que enfim eu almoce e chegue a tempo em casa. Tenho pressa por um cigarro e então que ele se queime logo. Meu coração dispara, vai e volta a mil por hora. Sinto fome e como depressa e muito e cada vez mais porque ela não passa. Ouvi que o tempo não para e quero também que ele logo passe. Tenho urgencia de velocidade. Sim, sinto pressa. E me pergunto: pressa do que se nunca chego? De morte, porque não. E se não acabo logo com isso é porque tenho esperança. A esperanca não se cansa de esperar, e por isso ela me atrasa. A esperança espera que um dia alcance, o que? A paz em vida, antes da grande que é a morte. Ela quer ter conciencia de paz e para isso, só estando em vida. Talvez, a esse tempo, eu consiga perceber que todo o barulhento movimento se passa apenas dentro de mim e que, se eu quiser, o além das fronteiras do que sou eu pode ser ausente de ventos e correntesas.
É! Corro, como filha de Insã que sou, porque sou do vento.

Tenho pressa de ser o que não sou, mas me demoro e quando sou o que queria ser já é tarde, não sou mais o que quero agora. Tenho pressa de me encontrar e não sei mirar o horizonte. Em que direção estou? Será que corro para mim ou de mim? Não paro para pensar porque olhar-me por dentro me cansa mais do que correr. Também não paro por medo. Temo que, ao freiar, o vento viciado passe levando minhas máscaras e me jogando nua e oca pelo chão. Sim, porque apesar de calejadas em meu rosto há tanto tempo, sinto as máscaras desgastadas e frágeis, quase pequenas para o corpo que imperceptivelmente cresce e silencio. 

E entao, será que as pessoas me reconheceriam? Não, elas já não entendem a necessidade de parar. Será que eu me reconheceria? Já não enxergo meus pés. Será que eu era e desapareci ou será que nunca fui e estou nascendo?

Sinto contrações. O momento de escolher se aproxima e isso de certa forma faz com que eu diminua o ritmo involuntariamente. Sinto calor e alívio. É como se eu tivesse estudado durante toda a vida que tive até aqui para responder a essa única pergunta, para me submeter a essa única prova. Não há mais o que revisar nem nada que se possa fazer a não ser enfrentar.

Enfim, eis a questão:
Ser ou não ser?

26 de mar. de 2008

A logica do quebra cabeca

Nao minto. Ja achei que ela falasse só a mim. Hoje sei que somos muitas. Ela encosta em toda alma feminina existencialista. Ela faz pulsar aquilo que nem ela mesma soube definir, mas que tentou chamar de delicadeza essencial.

No entanto, dessa vez, a conversa tem sido diferente. Antes ela era minha mae, agora é minha amiga. Antes ela me mostrava caminhos, hoje dividimos experiencias. Antes ela me fazia entender, hoje já penso sozinha. A conversa agora ganhou novo tom, nao se inclina. As pecas se encaixam com a perfeicao de um quebra cabeca e com a beleza da imagem que aos poucos vai se formando.

Em cada frase sua cabe um livro inteiro, cada paragrafo exige o tempo de um livro inteiro, cada pensamento exige toda atencao. Algumas, no entanto, chegam a lugares que ousei pouco procurar, fazem parte do porao da minha alma onde agora entrei. Apesar da poeira, estou me deliciando. Divido aqui um pouco do que andei encontrando por essas bandas esquecidas de mim, por essa bandas velhas de cá.

"..., supos que ele queria ensinar-lhe a viver sem dor apenas, ele dissera uma vez que queria que ela, ao lhe perguntarem seu nome, nao respondesse ´lori ´mas que pudesse responder ´meu nome é eu , pois teu nome, dissera ele, é um eu, ...´

12 de mar. de 2008

Previa: O pulso ainda pulsa

"Se alguém por mim perguntar
diga que eu só vou voltar
quando eu me encontrar"

8 de fev. de 2008

Desabafo

aaaaaaaaaaahhhhhhhhh!!!!!!!!!!

Obrigada Você

Obrigada.Está tocando uma música linda, que eu adoro.Meu coração ia apertar e, de repente, me lembrei.Sempre me lembro.Obrigada.Lembro daquela praia mágica com tantos segredos, lembro do bambuzal, lembro das loirinhas e lembro-me de mais uma conversa que mudou minha vida.Me faço de distraída, burrinha, desligada, menininha, mas vou gravando tudo.E agora agradeço muitas vezes.Porque foi você que me ensinou, sem querer, a ser mais forte.Você me ensinou a ser a menina-mulher que sou, cada vez mais forte.Você me ensinou, entre um grito e outro, uma reclamação e outra, uma debochada e outra, a construir-me.E a frase foi tão simples... “a música é sua agora. Ela foi dele. Agora que você a ama, que você a entende, ela é sua. Você não precisa lembrar e ficar com coração apertado porque as músicas são de fulano ou beltrano. Elas são tão suas, que você já pode até passá-las a quem você também quer cativar”...

Presente de uma amiga para lá de especial

7 de fev. de 2008

Filme da garotinha mesmo

"O amor é o que temos de mais próximo da magia"

Aquamarine

6 de fev. de 2008

Faminta

Saudade é um pouco como fome. Só passa quando se come a presença. Mas às vezes a saudade é tão profunda que a presença é pouco: quer-se absorver a outra pessoa toda. Essa vontade de um ser o outro para uma unificação inteira é um dos sentimentos mais urgentes que se tem na vida. Sinto saudades do calor do meu coração. E Apesar do frio, saudade até que é bom. É melhor que caminhar vazio.

Lispector com fome
Veloso a tira gosto

5 de fev. de 2008

Lis no Peito


"É um nome latino, né, eu perguntei para o meu pai desde quando havia Lispector na Ucrânia. Ele disse que há gerações e gerações anteriores. Eu suponho que o nome foi rolando, rolando, perdendo algumas sílabas e se transformando nessa coisa que parece "LIS NO PEITO", em latim: flor de lis."

Como diz uma querida: palavras da Amada Mestra

Meu primeiro amor

Por muitos anos ouvi falar dele. Via-o em fotografias, lia sobre ele em livros e escutava versos que o cantavam. Por muitas vezes achei tê-lo conhecido, mas era meninice, era muita vontade de tê-lo. Até que em uma tarde cotidiana, sentada no lugar de sempre com os já conhecidos amigos, ele passou por mim, divertido e brincalhão. De pronto não o reconheci, achei que fosse a paixão mais uma vez me atiçando. E ele veio de mansinho, me apresentando seu corpo, seu osso e sua alma. Fui aos poucos sentindo seu furor, seu calor e toda a sua transformação. Quanto mais ele se ocupava de mim, mais eu flutuava. De repente tudo fez sentindo. Era o amor.

Acho que o termo virgindade deveria ser usado para aqueles que nunca viveram um amor. O amor, no seu contexto mais profundo e verdadeiro, também só existe quando é sustentado por duas pessoas, reciprocamente. Mas a primeira passagem por ele é muita mais forte e reveladora que qualquer outra experiência. É de todas a mais nobre, a mais prazerosa e a mais completa.

Mas como em toda primeira vez, eu não soube direito o que fazer. Fui estabanada e muitas vezes tropecei. E errei tanto e tão desesperadamente, que as linhas se enroscaram, as palavras gaguejaram e o tom desafinou. Era a minha primeira vez, mas não era a dele. E por mais que ele tivesse errado na primeira, não errou feio como eu. E se desconcertou com a bagunça que fiz. E foi tudo tão irremediável, que não me há chance nem em outro amor, pois aprendi a só amar ele. Meu primeiro amor será o único para sempre, mas ele está à procura de um novo amor, menos desastrado que eu.

1 de fev. de 2008

Metamorfose


Minha única constância é ser inconstante. E isto é perturbador.


Filhote de tartarua

Clarice me disse: querida, não pense que você tem tanta força assim a ponto de levar qualquer espécie de vida e continuar a mesma. O mais importante e bonito, do mundo, é isto: que as pessoas não estão sempre iguais. Ainda não foram terminadas – mas que elas estão sempre mudando. Afinam e desafinam. Até cortar os próprios defeitos pode ser perigoso. Nunca se sabe qual é o defeito que sustenta nosso edifício inteiro. Não copie o ideal, copie você mesma – é esse o único meio de viver.

Misturinha divertida. Clarice salpicada de Tom

Sabedoria de tartaruga

Ela me mantém em um altar e todo dia me leva flores. Já lhe disse que não gosto disso, mas ela insiste: Não se preocupe, seus defeitos acompanham sua imagem. Tranqüilizo-me por um instante e logo volto a me preocupar. Um dia as luzes cessarão, as máscaras se despregarão do rosto murcho e apagado e a falsa santa despencará do pedestal. Minha fragilidade sonsa não suportará a queda e a imagem intocada se quebrará em milhares de pedacinhos, tornando-se impossível à restauração. Será que ela me perdoará ao perceber que sou oca?

Gosto de como ela me vê. Passo a existir de forma superior a mim mesma através de seus olhos. Toda vez que nos encontramos ela coloca um gordão de ouro envolta do meu pescoço. È minha amiga, acredita na minha beleza. Ela quer me dar graça, quer me encorajar. Mas é tudo hipocrisia. A força é dela e não minha. São seus punhos e músculos que me sustentam.

Se ela continuar a agir assim, esse cordão dourado é capaz de me enforcar. Ela precisa me dar a derrota embrulhada em laços e papel crepom. Como confetes, ela precisa me jogar os defeitos na cara. Eles também são de se festejar. Só se levanta quem cai, e ela precisa me soltar. Não quero mais sua força emprestada, quero saber levantar sozinha. Sei que não é fácil, mas eu venho aprendendo como ela. Há anos assisto sua vitória conquistada a passos de tartaruga, como deve ser.

Enfim chegará o dia em que ela voltará a me enxergar inteira como outrora, só que com uma diferença: será a mesma imagem que vejo ao me olhar no espelho. Saberei então que o brilho de seus olhos ao me ver serão reflexo da minha verdade. Daí em diante não mais precisarei de adereços. Eu os serei.

Introdução

Resumo nesse livro o suor dos poetas. Faço desse a dança da adaptação dos dizeres deles transformados nos meus. Faço das palavras deles uma mistura às minhas palavras, para que gritem e registrem tudo aquilo que resumo amor – palavra que não comporta o que sinto e que se deixa derramar em todas as páginas aqui reunidas. Que fique transparente, no entanto, que o que sinto não cabe aqui ou em lugar algum. E que apesar disso, cada uma dessas palavras insistentes foi cuidadosamente recolhida, carinhosamente combinada e incontáveis vezes, com muita saudade e amor, relida. A cada uma delas derramei ao menos uma lágrima. Receba-as como um pranto incessante, emocionado pela felicidade que vivi e triste pelo amor que perdi. Guarde-as como um choro sempre quente, símbolo do meu amor e da minha dor. No fundo de cada uma delas poder-se-á sempre escutar os meus soluços

28 de jan. de 2008

Lição do dia

Pensar sim. Muitas vezes, mas pouco de cada vez. Para que dessa forma o sonho possa ser alto, mas seguro. Para que a saudade exista, mas não machuque. Para que a realidade não se engane. Para que nem o passado nem o futuro se tornem perigosos. Para que o presente se faça cada vez mais presente.

Em busca de um caminho

“Indagava comigo que horas seriam; ouvia o silvo dos trens que, ora mais, ora menos afastado, e marcando as distâncias como o canto de um pássaro em uma floresta, descrevia-me a extensão do campo deserto, onde o viajante se apressa em direção à próxima parada: o caminho que ele segue vai lhe ficar gravado na lembrança com a excitação produzida pelos lugares novos, os atos inabituais, pela recente conversa e as despedidas trocadas à luz de lâmpada estranha que ainda o acompanham no silêncio da noite, e pela doçura próxima do regresso”.

Marcel Proust
No Caminho do Swann - 1. volume de Em busca do tempo perdido

23 de jan. de 2008

Promessas para 2008


1- Abondonar a menina
2- Assumir a mulher

Se escrevo é por influencia dela

Ser influenciável sempre soa como uma característica ruim. Aos meus olhos não. Se a influência for profunda ela sempre vale a pena, porque é transformadora. Sinto-me maior pelas influencias que sofri. E acredito que esse tipo de influência – da boa, como podemos chamar - só acontece quando estamos verdadeiramente abertos, atentos e curiosos. Quando estamos realmente dispostos a ouvir, livres de antigos preconceitos.
Acho que ela está mais aberta para mim do que nunca. E tal evento não é uma questão de convivência, pois nunca nos vimos com tão baixa freqüência. E então pergunto a ela: quando foi que essa porta se abriu? Quando foi que me tornei mais interessante que a bela paisagem?
Enquanto espoero a resposta, conto a ela um segredo: Querida, a influência que você me causou foi muito maior e transformadora. Fazer-te pensar é facil, o difícil é fazer-me sentir. Obrigada, amiga.

Fragmentos do diário de uma mulher de verdade

... que escancara tudo e de tal forma, que enquanto leio suas linhas olho irritada para o espelho e percebo algumas de minhas máscaras. È como se ela brigasse com todos os meus egos, fosse embora e os deixasse a se matar. Nunca conheci alguém com tão pouco medo de si. Mas qual seria o tamanho da desordem do mundo se todos fossem como ela? Não estamos preparados para uma sociedade verdadeira, precisaríamos evoluir muito para isso.

“Partilho com Henry de uma raiva, não das imperfeições das mulheres, mas da loucura da vida em si, que talvez este volume proclame mais ruidosamente do que todas as maldições de Henry.”

“O amor reduz a complexidade da vida.”

“Não havia nada de errado em representar papeis exceto que não se deve levá-los a sério. Mas eu me torno sincera e vou em frente. Então fico inquieta e infeliz.”

Anaïs Nin

22 de jan. de 2008

O Meu samba vai virar pagode

Meninas, amei o presente. É um presente de filha da puta, mas a intenção é linda e carinhosa. È muito especial saber que vocês querem me ouvir. A homenagem é tão querida que não me cabe. Mas vindas de vocês, amigas do amor, as flores são sempre lindas e perfumadas, independente do receptor. O mérito, portanto, é de vocês. Parabéns às duas pela delicadeza.
Pra ficar a altura, ensaiei algumas palavras. Divagações sobre os diferentes tipos de presentes – e como eu definitivamente não sei dar, só receber. Filosofias sobre amizades. Reflexões sobre passagens e pessoas. Não rolou. Só fiz rasgar papel. Tudo que saiu foi uma evolução do pior movimento brega. Que fase, ehn Almeida! Deve ser a calmaria. E sem enjôos, não vomito. Vocês sabem que meu samba precisa de um bocado de tristeza, se não vira pagode.
No fim, sei que vocês vão ler esse texto e pensar: essa é a dita que a gente conhece. Primeira missão cumprida?