27 de nov. de 2008

Meu Pai, Meu Herói - continuaocao


Essa relacao deu a Joana o privilégio de ter no pai o melhor amigo. Quando perdeu a virgindade ele foi dos primeiros a saber. Quando quis falar sobre dogras, ele nao relutou em explicar e até ouviu suas experiencias. Quando entrou em crise com a profissao, foi ele quem a ajudou e mostrou-lhe um outro mundo, o das artes. Quando ela trouxe um novo namorado - esse pra valer - ele virou para o novo genro sem a menor cerimonia e disse: Camisinha, ehn! E ela pensou: É! Esse é o meu pai. Joana entrou nessas de saber por causa dele. Achava linda a sua forma de parodiar a vida dando sempre maior sentido as coisas com explicacoes tao mágicas. Pensava que se soubesse como ele seria também respeitada como ele. Num dado momento sentiu que precisava se desgarrar. Tinha chegado a hora de tirar as rodinhas da bicicleta, de ouvir a si mesma e sozinha ver o que tinha pra ser e falar. Mais uma vez, com total apoio dele, foi embora para longe sem qualquer objetivo claro e nenhuma data pra voltar. Sem a capa de seu super heroi, ela deu com a cara no espelho, no mundo, na solidao. Se confundiu, se perdeu. Ela sabia que isso fazia parte do processo e ele também. Mas, como fazia quando ela era crianca, veio mais uma vez ao seu encontro segurar sua mao e contar mais uma de suas grandes histórias: Filha, voce sabe como o passarinho aprende a voar? A mae-passaro leva o filhote para qualquer lugar bem alto e de lá o empurra para baixo. Se ele nao consegue voar, ela vai atrás dele, o agarra com o bico, sobe outra vez e o empurra de novo lá de cima. Voce acha que isso é fácil para a mae-passaro? Claro que nao! Deve ser com um enorme aperto no coracao que ela empurra repetidamente o filho do abismo até que ele aprenda a voar. Mas imagina a primeira vez que esse bicho acerta a asa no vento e voa? A sensacao de liberdade, o vento na cara, a paisagem la embaixo e a alegria desse animal? Entao, eu quero o mesmo pra voce, filha. Eu quero que voe e sinta toda a deliciosa liberdade que isso dá.

Joana ainda nao aprendeu a voar. Mas de tanto despencar altura abaixo já está pegando a posicao das asas. Seu pai, assim como na tardes de represa quando dava as cordenadas para ensinar-lhe a esquiar - bracos esticados, esquis paralelos, forca nas pernas - dá, agora de longe outras coordenados - nao escute os outros, escute voce e busque a sua independecia a sua forma. Ela espera que ele perceba que, apesar de ainda muito desastrados, seus movimentos estao mais seguros. E como naquela tarde depois da chuva, em que ela conseguiu deslisar sobre aguas da represa e sentir o sabor do vento no rosto, num dia qualquer, depois de uma longa dempestade, ela vai sentir um vento ainda melhor, só que dessa vez ao voar!