28 de nov. de 2010

23 de nov. de 2010

Ao ex amante, ao novo amigo, a carta velha e guardada que encontrei

Nao, I´m really sorry, mas acho que nao posso. Nao consigo, nao sei. I´m sorry, mas nao me é possivel. Ou nao estou pronta. Nao pra voce, mas pra mim, o que é muito mais grave. Nao quero. Talvez precise, mas nao sei como, nao sei por onde. Ou nao me cabe, nao me pertence. Fique com isso tudo pra voce, ou entregue a quem saiba compreender-te. Pois eu nao sei nem de mim, e com voce me tornei mais complicada a mim mesma. E já me bastavam as velhas e gastas complicacoes. Ha coisas, muito antes destas, a serem tratas e compreendidas. Sou crianca e me deixe ser.

22 de nov. de 2010

A vida que me pertence no presente momento

O suvaco peludo, o mau humor, o esmalte descascado, as meias sem par. A boemia incessante, a sindrome de Peter Pan. A negacao ao casamento, à rotina, à obediencia e à normatizacao. O nao pelo nao, a birra. O sim, pelo sim, a indiferenca. O vício pelo café, pela alcool, pela noite e outras cositas mas. A inconstancia, a descerimonia. A vadiagem, o desapego, a preguica, o sono profundo, a afetacao. A solidao, a dúvida, o questinameto. A alienacao, o esquecimento, a busca, o ingenuo mas ativo engajamento. O mes carente de fim de semana e de segunda-feira também. As dividas, as calcas curtas, o dinheiro nao poupado, o tempo gasto até o último vintém. O quarto do avesso, as diferencas acertadas, as pequenas comunidades, as áreas comuns. O eu, o outro, o nós. As disciplinas pessoais, os limites, as forcas. Os desentendimentos, os diálogos, a impermanacia, a partida e o ficar. A inseguranca, a carencia. O teto, o cobertor, o carinho, a geladeira, o calor e a banheira dividos em muitos sem quase nao faltar nada à ninguem. Os jantares sem ocasiao, a luz de vela. O sexo sem dono, o coracao ocupado. Os incontaveis passados, o único presente, o futuro impensado. As possibilidades, o anonimato. Os semi-empregos, a vida paralela, os projetos, crencas, aspiracoes e frustracoes tao sortidos quanto pessoais. O tempo livre, a fadiga, a tosse, o nariz escorrendo. As contas, a roupa de cama e banho, a louca, pecas de jogos incompletos, guardados com singela ordem num único armário de todos. As mentiras sem maldades, as verdades insensieis. A arte, o casameto político, as amizades adiplomáticas. O medo e a coragem, as paredes sem acabamento. A indiferente opcao sexual e sua maleabilidade. A experincia, o cansaco, o abatimento. A fuga, a fulgacidade, o desassosego. A vida que me pertence no presente momento.

Cheguei a Berlin vestida de planos de fachada, corregando na mala todos os meus segredos. Era 29 de fevereiro, dia quase inexistente em calendários. Entrei por ele - porta que se fechou às minhas costas - num mundo paralelo, tao meu quanto de ninguém, tao sem dono como todos. Serviu-me como que feito por medida, nem pequeno nem grande. A mágica de ter todo e apenas o tamanho que merece, espacoso o suficiente para que nao transborde às linhas alheias, estreito o bastante para que nao me afrouxe à cair.

E sumi na multidao.

21 de nov. de 2010

Domingo

Sao 17:45, mas a escuridao é de meia noite. Faz tres graus e reconheco em mim habitos antes impensaveis. Os daqui falam sobre os prazeres do ar puro do lado de fora quando em dias gelados. Domingo. Comeco de inverno e baixa temporada. Estou trabalhando pela primeira vez sozinha no hostel. Uma paz e quietude do dia em que até Deus descansou. No hall somente eu e talvez alguns hospedes calados sentados aos computadores. Trouxe na bolsa um bom livro. Encotrei na internet o PFD de outro a que pensava comprar. Escrevo. Na rádio, melodias e poesias brasileiras. A solidao pode trazer tanta calma, tantas liberdades. Acabo de voltar de um cigarro. Sim, eles tem razao, respirar dessa ar é como beber agua fresca da bica. Mas narciso acha feio o que nao é espelho. Tardo, mas surpresa me alegro em ver que nao falho na transformacao. Pouco a pouco, volto sempre a ser quem nunca fui. A lua, no ato máximo de cheia, tao baixa e grande que pode ser mal interpretada. Disseram-me uma vez que quando ela se encontra em tal estado, faz-se por ela pedidos a Iemanja. Pois, sim. Que me faca forte e justa. Além disso, só quero saúde. Amém.
"Os lobos saudáveis e as mulheres saudáveis têm certas características
psíquicas em comum: percepção aguçada, espírito brincalhão e uma elevada
capacidade para a devoção. Os lobos e as mulheres são gregários por natureza,
curiosos, dotados de grande resistência e força. São profundamente intuitivos e têm
grande preocupação para com seus filhotes, seu parceiro e sua matilha. Tem
experiência em se adaptar a circunstâncias em constante mutação. Têm uma
determinação feroz e extrema coragem.

No entanto, as duas espécies foram perseguidas e acossadas, sendo-lhes
falsamente atribuído o fato de serem trapaceiros e vorazes, excessivamente agressivos e de terem menor valor do que seus detratores. Foram alvo daqueles que prefeririam arrasar as matas virgens bem como os arredores selvagens da psique, erradicando o que fosse instintivo, sem deixar que dele restasse nenhum sinal. A atividade predatória contra os lobos e contra as mulheres por parte daqueles que não os compreendem é de uma semelhança surpreendente."

Trecho do prefácio de Mulheres que correm com os Lobos
CLARISSA PINKOLA ESTÉS

O livro inteiro está disponível em PDF
http://veterinariosnodiva.com.br/books/MULHERES_QUE_CORREM_COM_OS_LOBOS.pdf

9 de nov. de 2010

Amor e meeeeedo

"Narrador
O amor elimina o medo, mas reciprocamente o medo elimina o amor. E não apenas o amor. O medo elimina a inteligência, elimina a bondade, elimina todo pensamento de beleza e verdade. Só persiste o desespero mudo ou forçadamente jovial de quem pressente a obscena presença no canto do quarto e sabe que a porta está trancada, que não há janelas. E então a coisa acomete. Ele sente uma mão na sua manga, respira um bafo fétido, quando o ajudante do carrasco se inclina quase amorosamente para ele (...). E o medo, meus bons amigos, o medo é a própria base e fundamento da vida moderna. Medo da tão apregoada tecnologia que, enquanto eleva o nosso padrão de vida, aumenta a probabilidade de nossa morte violenta. Medo da ciência que arrebata com uma das mãos ainda mais do que tão prodigamente distribui com a outra. Medo das instituições manifestamente fatais pelas quais, em nossa lealdade suicida, estamos prontos a matar ou morrer. Medo dos grandes homens que elevamos, por aclamação popular, a um poder que eles usam, inevitavelmente, para nos massacrar e escravizar. Medo da guerra que nós não queremos e todavia tudo fazemos para desencadear."

6 de nov. de 2010

Caítulo XLIII - Voce tem medo?

"De repente, cessando a reflexao, fitou em mim os olhos de ressaca, e perguntou-me se tinha medo.
- Medo?
- Sim, pergunto se voce tem medo.
- Medo de que?
- Medo de apanhar, de ser preso, de brigar, de andar, de trabalhar..."