28 de nov. de 2008

o eu que era eu

E tudo que eu andava fazendo e sendo eu não queria que ele visse nem soubesse, mas depois de pensar isso me deu um desgosto porque fui percebendo (...) que talvez eu não quisesse que ele soubesse que eu era eu, e eu era.

Além do Ponto - Caio Fernando Abreu
Texto na integra: http://caio-fernando-abreu.blogspot.com/2007/06/alm-do-ponto-caio-fernando-abreu.html

A Trois


A Pi é mentirinha porque tem pernas curtas, é a Pixote das meninas, a Pipoca dos namorados, a minha PIquena Miss sunshine. A Rach odeia que chamem ela de Quel, é Buzzo durante o dia e Cheleeeeem a noite, a minha Tartaruga. A relacao entre nós tres foi meio a la Boscoli e Elis Regina, comecou em guerra e acabou em casamento. A primeira batalha foi com a Pixe. Sua alergia nao combinava com meus cigarrinhos e isso, reforcado com um genio dificil vindo de ambos os lados, foi motivo de muita farpa no comeco. Numa tarde qualquer, sem aviso, ela se mudou pra minha casa de praia pra passar o resto das ferias e ficar de vez no meu coracao. Enfim aliadas, entramos em seguida numa outra briga, agora contra um novo membro do batalhao, Chelem. Dessa vez, foi seu super bom humor que nao combinou com o temperamento muitas vezes ranzinza da dupla. Mas ela tava armada de muito carinho e a gente nao resistiu, a Tartaruga ganhou o nosso amor. Pronto! Tava feito o casamento: o tripé das maridas. Com a participacao acidua da lorinha, vivemos a partir de entao uma eterna lua de mel - com algumas briguinhas saudáveis a qualquer casal, no caso, trio. Numa dessa loucura inconsequentes que se faz só por amor, entramos num estudio de tatuagem como quem casa em Las Vegas, e tatuamos o corpo como prova de amor. Só que no nosso caso a capela foi Barcelona e o padre se camava Kiki. Hoje o Tripé está em pleno espacate, cada extremo num ponto do mundo. Os tendoes se esticaram, mas jamais se romperam. A gente se cuida, se ama, se escreve. Quando duas se encontram levam sempre a terceira no espírito. Somos maridas, irmas, amigas, maes e filhas. E os pápeis vivem em rodízio. Quando uma apronta, as outras se preocupam, dao bronca, aconselham. Quando a noticia é boa, as outras viram pavoes, maes cheias de orgulho. A gente torce uma pela outra, comemora e fica triste. O tempo e a distancia que nos separam foram presentes que a vida nos deu pelas bodas, aniversario de 5 anos de casamento. Pela óptica da saudade reconhecemos a forca dessa uniao, a sua verdade e a sua importancia. A amizade cresceu, valorizou, está consolidada. O Mundo pode cair lá fora, mas o tripé está mais firme do que nunca, ninguém pode derrubar.

27 de nov. de 2008

Meu Pai, Meu Herói


Joana sempre teve em seu pai o heroi de suas histórias. Quando era pequena, subia em suas costas e ele trotava por toda a casa como se fosse seu cavalo alado. Antes de dormir, contava sempre a mesma hisória, a pedido dela, sobre o dia em que Sao Pedro ficou doente e os bichinhos da floresta passaram dias na seca, sem um pinguinho de chuva. Em noites de insonia, quando ela chorava com medo de morrer, ele segurava na sua mao e cantava: Minha jangada vai sair pro mar, vou trabalhar, meu bem querer... Na escola, quando pergutavam sobre a profissao do pai, ela enchia a boca pra dizer MICROBIOLOGISTA sem ter a menor idéia do que aquilo significasse. E quando repetiu a quinta série, foi ele quem lhe deu a notícia dizendo: Minha filha, nao fique triste. Voce nao foi a primeira e nem a última. Será melhor pra voce. Certo dia ela decidiu que queria aprender a andar cavalo de verdade. Ele, que nunca teve dinheiro para tanto, achou uma escolinha pangaré perto do sítio e, por mais de ano, levou-a religiosamente todos os domingos, as 8h da manha, para ter as aulas. Joana vinha a cada hora com uma mania diferente e ele sempre acompanhava como quem quer ver aonde aquilo vai dar. Virou beata de igreja e ele, que sempre fora ateu, ia com ela às missas sempre com um trocadinho no bolso para que ela depositasse na caixinha do dizimo. Depois quis ser judia. Ele, mais uma vez, a apoiou em todas as buscas de documentos e assinaturas para entrar para a Hebraica. Quis mergulhar, ele arrumou um instrutor, quis viajar, ele lhe deu o mundo. Foi ele também, quando ela completou 12 anos, que comprou um lancha (outro pangaré, só que esse a motor) para ensinar-lhe a esquiar. Assim como ele, ela nunca chegou a fazer grandes manobras. Mas depois de dias na represa de Segura firme na manete, Vou esticar a corda, Vai pai! Ao fim de uma chuva de verao, que deixa as aguas lisas como um espelho, num desses Vai! ela foi e aprendeu. Quando ele achou que já estava em tempo, deu a ela dois tesouros: Revolucao dos Bichos e O Mundo de Sofia. O primeiro ela até conseguiu entender - com a ajuda do pai, claro - mas o segundo ela largou antes mesmo de Sofia receber o terceiro envelope. Isso, no entanto, nao a desencantou com livros, pelo contrário, viu neles uma oportunidade de ser como seu heroi. Já adolescente, aos 15 anos, Joana apresentou ao pai o primeiro namorado. Ele, ao contrário de sua maioria, calou-se tentando segurar uma ou duas lágrima que insistinham a cair pelo rosto. Apertou firme a mao do rapaz enquanto dizia: é um enorme prazer. Naquele mesmo dia levou a filha para o seu restaurante japones predileto e disse a garconete: Marilda, duas cervejas, por favor. Hoje o dia é de comemoracao. O namoro nao durou muito, mas as cervejinhas entre pai e filha tornaram-se cada vez mais constantes. Eles falavam de tudo. Foi ele quem a apresentou a Sartre, relatividade, quantica, comunismo, Elis Regina, pesca submarina, Novos Baianos, Amazonia, ditadura. Foram nessas conversas, banhadas de muita filosofia e brahma, que Joana comecou a entender realmente a lingua do pai - dai em diante e para sempre na sua cabeca o maior de todos os cientistas maulcos. Quando ela comecou a ter dúvidas sobre quem era - ou conheceu o existencialismo - ele contou com um brilho nos olhos sobre o dia em que descobriram, durante uma experiencai em meados de 20, que as ondas podiam tornar-se moléculas e as moléculas podiam torna-se ondas. E que, portanto, nada tinha uma forma definida, nem ela precisava ter. Quando ela fez sua primeira tatuagem ele definiu seguro: Isso, segundo Darwin, é ritual de acasalamento. Os pavoes exibem as penas e voce, minha filha, pinta o corpo. Mas o fim é o mesmo, chamar a atencao do sexo oposto.

Meu Pai, Meu Herói - continuaocao


Essa relacao deu a Joana o privilégio de ter no pai o melhor amigo. Quando perdeu a virgindade ele foi dos primeiros a saber. Quando quis falar sobre dogras, ele nao relutou em explicar e até ouviu suas experiencias. Quando entrou em crise com a profissao, foi ele quem a ajudou e mostrou-lhe um outro mundo, o das artes. Quando ela trouxe um novo namorado - esse pra valer - ele virou para o novo genro sem a menor cerimonia e disse: Camisinha, ehn! E ela pensou: É! Esse é o meu pai. Joana entrou nessas de saber por causa dele. Achava linda a sua forma de parodiar a vida dando sempre maior sentido as coisas com explicacoes tao mágicas. Pensava que se soubesse como ele seria também respeitada como ele. Num dado momento sentiu que precisava se desgarrar. Tinha chegado a hora de tirar as rodinhas da bicicleta, de ouvir a si mesma e sozinha ver o que tinha pra ser e falar. Mais uma vez, com total apoio dele, foi embora para longe sem qualquer objetivo claro e nenhuma data pra voltar. Sem a capa de seu super heroi, ela deu com a cara no espelho, no mundo, na solidao. Se confundiu, se perdeu. Ela sabia que isso fazia parte do processo e ele também. Mas, como fazia quando ela era crianca, veio mais uma vez ao seu encontro segurar sua mao e contar mais uma de suas grandes histórias: Filha, voce sabe como o passarinho aprende a voar? A mae-passaro leva o filhote para qualquer lugar bem alto e de lá o empurra para baixo. Se ele nao consegue voar, ela vai atrás dele, o agarra com o bico, sobe outra vez e o empurra de novo lá de cima. Voce acha que isso é fácil para a mae-passaro? Claro que nao! Deve ser com um enorme aperto no coracao que ela empurra repetidamente o filho do abismo até que ele aprenda a voar. Mas imagina a primeira vez que esse bicho acerta a asa no vento e voa? A sensacao de liberdade, o vento na cara, a paisagem la embaixo e a alegria desse animal? Entao, eu quero o mesmo pra voce, filha. Eu quero que voe e sinta toda a deliciosa liberdade que isso dá.

Joana ainda nao aprendeu a voar. Mas de tanto despencar altura abaixo já está pegando a posicao das asas. Seu pai, assim como na tardes de represa quando dava as cordenadas para ensinar-lhe a esquiar - bracos esticados, esquis paralelos, forca nas pernas - dá, agora de longe outras coordenados - nao escute os outros, escute voce e busque a sua independecia a sua forma. Ela espera que ele perceba que, apesar de ainda muito desastrados, seus movimentos estao mais seguros. E como naquela tarde depois da chuva, em que ela conseguiu deslisar sobre aguas da represa e sentir o sabor do vento no rosto, num dia qualquer, depois de uma longa dempestade, ela vai sentir um vento ainda melhor, só que dessa vez ao voar!

23 de nov. de 2008

Kotula, Negri, neve e outras bencaos

Sábado, 3h 15 da tarde. Saio para passar o resto do dia na casa de uns amigos. A previsao é de neve e os termometros estao abaixo de zero, mas o céu azul já tinha acabado com as minhas expectativas. Sem problemas, passar umas horinhas com o Casal Kotula-Negri já é sempre, em si só, um acontecimento especial.

Ela ficou grávida aos 17, era hippie em 70 e uma vez fugiu de casa para Paris - só pq ficava lá o único cinema que passava o filme que ela queria assistir. Ele se mudou para Londrina sozinho aos 16, foi da selecao de volei paranaense e viajou pelo mundo por anos com um grupo de artitas androgenos, fazendo a boca de muita gente cair. Quando eles se conheceram, durante uma turne do grupo de teatro Estupidas, do qual ele fazia parte, ela era uma alema linda, independente, dos olhos azuis. Ele um brasileiro dez anos mais novo cheio de charme e liberdade. Eles se apaixonaram e em poucos dias jutaram as trochas. Na Berlin ocidental de outros tempos -tao dourados como eles costuma dizer - tiveram o melhor cabaré de cidade, com tres apresentacao diárias que fariam qualquer corpo militar brasileiro da época decrater a prisao do grupo inteiro de artistas e fechamento da casa. Nesses 32 anos juntos, participaram de filmes, foram tema de documentários, viajaram por todo canto, viram o muro cair, a alemanha mudar, os netos crescer. Hoje sao minha companhia predileta.

Sempre que chego eles estao juntos pintando. Ela me oferece uma taca de vinho e ele um pega no baseado. Sentamos na sala que tem toda uma aurea especial. O aconchego que ele criou com o incrivel dom deixar as coisas exatamente do seu lugar se une as centenas de livros dela que cobrem a parede com obras que vao desde Kafka e Nietzsche até, porque nao, Coelho. E ficamos assim, por horas, conversando. Eles me contam sobre a guerra, os tempos de muro e todos as consequencias que nem imaginei sobre a sua queda. Me falam de vida, de amor e da busca do eu. Morro de rir com as histórias da época da Cabaré ou quando eles resolvem discutir as diferencas culturais entre alemaes e brasileiros. E quando a coisa ferve é um festival de línguas. Sem que eu acompanhe as mudancas, eles passam do alemao para o frances, do ingles para o italiano e de repente, quase sem querer, até escapa o portugues. Quando bate a fome nos mudamos para a cozinha. Enquanto ele prepara a comida - ontem, um prato tipico alemao - ela fica em volta tentando mudar a receita. A uma distracao dele, ela vira a lata de leite condensado na panela, enquanto ele grite: Chega Karine! Mas que teimosia! e ela olha pra mim rindo, com cara de menina moleca. Mas ela no fundo sabe que ele cozinha como ninguém. Meus jantares nos Kotula-Negri estao entre as melhor refeicoes que fiz. Mais um taca de vinho, outro baseado e a última garfada que resta na panela. Enquanto ela me conta que sua filha se chama Simone por causa de Beauvoir ele procura no quarto um video de mais ou menos 1980 com um show que fizeram chamado As Crises, que metia o pau em pelo menos meia dúzia de países, e que nao poderia ser mais atual.

Ela é de leao e ele também. Ela pintou um quadrinho, que ele pendurou na cabeceira da cama. Ele pintou outro quadrinho, que ela também colocou na cabeceira da cama. Ele sempre lhe dá rosas, as prediletas dela. Ela nunca deixa de lembrar dele quando ve anjinhos, que ele adora. Duas criaturas especias que me ensinaram sobre respeito, amor, amizade. Duas bencaos que estao me ajudando mais do que imaginam na formacao do eu que tanto vim buscar. Dois amigos para a vida, que quando voltar para o Brasil, nao vou ter coragem de deixar. Ontem avisei: Netuno, voce e a Karine voltam comigo.

Enfim ela se canca, dá um beijinho de boa noite nele e vai dormir. Enquanto ele bola o último baseado (impossivel competir com o Netuno, ele derruba qualquer um sem perder a linha) ele fala de um trecho do livro que está lendo, sobre as bencaos que a gente recebe da vida e como é só estar aberto para recebe-las. Hora de despedir. Visto meu caso de urso, pego o quadrinho que ganhei - que lógico, vai direto para a cabeceira da minha cama - e respiro fundo pra encarar meu caminho de volta para casa. Faz um baita frio, já é tarde - mais de 1h da manha - e o metro pode demorar pra chegar. Além do mais, moro exatamente do outro lado da cidade, no Ost, como eles chamam o antigo lado comunista. Abrindo a porta, o Netuno diz: tá tudo branquinho lá fora. Enquanto estava lá dentro nao percebi, mas nevou muito. Como se já nao tivesse recebido bencaos suficientes naquela noite, volto para casa por uma Berlin completamente branca. Com um sorriso de crianca que nao me saiu do rosto, chutei a neve e corri pelos carros fazendo bolinhas com as maos enquanto escutava Joao Gilberto. Assim como o casal Kotula-Negri, eu hoje acredito em anjos.

21 de nov. de 2008

Uma Tupiniquim em terras germanicas

Hoje, depois de acoradar, enquanto fazia meu café, olhei pela janela da cozinha e nao acreditei! Estava nevando! Nao era ainda aqueeeela neve, antes mesmo de chegar no chao derretia. Mas os floquinhos branquinhos, muitos deles, voavam pelo céu e eu mal podia acreditar! Sai correndo para a sala, abri a janela, e me estiquei, querendo encostar. Eu ria como crianca. Neve é uma alegria infantil, uma felicidade simples e tao gostosa. Principalmente para uma tupiniquim que está acostumada a calor e agua fresca. Quando me virei, minha vizinha me olhava como se eu fosse um E.T, ou melhor, um índio. E para uma india sul americana, neve é uma novidade quase tao grande como um dia foi o espelho. Quis mostrar pra alguem, contar o que estava acontecendo, dividir a alegria. Mas para os alemaes qual a novidade nisso? Mandei um email gritante pra pixote, que no comeco do ano teve a sorte de estar aqui durante 7 dos poucos dias que restam de neve em Berlin (antigamente tinha quase durante todo o inverno, mas com as mudancas climaticas, virou uma neve molhada e rara na cidade). E lógico, como no comeco do ano, quando ela ficou que nem o menininho de Esqueceram de mim apoiada na janela, quase chorando de ver aquele branco cair, ela entendeu de novo, como boa tupiniquim que é, a emocao que eu tava sentindo. Corri depois para ver a previsao do tempo: neve de verdade no sábado, domingo e segundo. Viva!!! É o inverno chegando, trazendo uma poesia fresca para meu caderninho de experinencias.

10 de nov. de 2008

A ilha desconhecida


"O homem nem sonha, que nao tendo ainda sequer comecado a recrutar os tripulantes, já leva atrás de si a futura encarregada das baldeacoes e outros asseios, também é deste modo que o destino costuma comportar-se connosco, já está mesmo atrás de nós, já estendeu a mao para tocar-nos o ombro, e nós ainda vamos murmurar, Acabou-se, nao há nada mais que ver, é tudo igual..."


"Gostar é provavelmente a melhor maneira de ter, ter deve ser a pior maneira de gostar"


José Saramago

O Conto da Ilha Desconhecida

8 de nov. de 2008

Migracao


Sábado passado fiz um passei delicioso. Além de visitar uma biblioteca, comer um dos melhores döners kebabs de Berlim e aproveitar o sol "quente" e o céu azul, já raros nessa época do ano, conheci melhor uma das regioes da cidade que mais concentra galerias. Uns pedacinhos calmos de rua no bairro Mitte, entre cafés, brechós e lojas de sapatos incriveis, bem no coracao da capital onde o muro passou exatamente em cima. Uma galeria atrás da outra. Entramos em tantas que até perdi a conta. Trabalhos em vidro, cobre, madeira, fotografias, quadros minis e gigantes. A cada esquina com um conceito diferente. E quando dei de cara com uma revistaria especializada em edicoes de arte, com publicacoes do mundo inteiro, pensei com uma alegria infantil e um sorriso escapado: é! Berlin é mesmo especial!


A exposicao Umbra Sumus da artista plástica sul africana Liz Crossley falava sobre migracao. Me sinto assim toda vez que saio na rua. Minha pele, meu cabelo, minha sobrancelha nao deixam dúvida. Ando praticamente com uma placa na testa escrito: Imigrante! Acho que por isso essa foi a exposicao que mais conversou comigo. O movimento está em todas as suas pecas... e gosto disso.


"... I have made a number of different series of drawings of people walking, running, moving, swimming, even crawling. The basis of life: Not only people, animals and birds, but plants too move to the places wich help them survive better (...) It seems to me that people have always moved and will always move. Very often the only way to survive is to flee..."

3 de nov. de 2008

... no país das maravilhas

"- Eu podia contar minhas aventuras... começando desde hoje de manha - começou Alice um pouco hesitante - Mas nao vale a pena contar desde ontem, porque eu era uma pessoa diferente"

Alguém explica?

-concordo com vc -disse a duquesa- e a moral disso é ; "seja aquilo que pareceria ser" ou, se quiser,isso dito de maneira mais simples: " Nunca imagine que não ser diferente daquilo que pudesse parecer aos outros que você fosse ou poderia ter sido não seja diferente daquilo que você tendo sido poderia ter parecido a eles ser de outro modo"

2 de nov. de 2008

O Fim do Império do Medo


Nasci! Vinda de um buraco negro, despenco num solo seco e quente. Em pleno silencio resurjo num sertao intocado. Já nao há qualquer sinal de sangue da mulher que me pariu, nem gemidos de dor. Nada! O Horizonte é infinito e absolutamente solitário.


Ainda estou caida, sentada, perplexa. À um acesso de nada, extravaso o que resta desse vazio. Estapeio o chao que me cerca e tudo que sobe é pó. Estou sentanda, mas alguma coisa urge em levantar.


Percebo o cessar do tremor que sentia. Uma cólica comeca a ferver o colo agora fértil. Uma luz explode ao centro arrastando calor por todo o corpo, até chegar à periferias de mim. Os pés formigam, rogam pelo movimento. As maos procuram os joelhos que, pressionados contra o chao, dao altura às pernas e diminuem a distancia para o céu. À um pestanejar a pele se alonga e humidece o olhar que danca. O ombros se despregam, os punhos se abrem. É o fim do império de medo.




1 de nov. de 2008

Porque hoje sou devota ao tempo. Amém

Oracao ao Tempo - Caeteando...

És um senhor tão bonito
Quanto a cara do meu filho
Tempo tempo tempo tempo
Vou te fazer um pedido
Tempo tempo tempo tempo...

Compositor de destinos
Tambor de todos os rítmos
Tempo tempo tempo tempo
Entro num acordo contigo
Tempo tempo tempo tempo...

Por seres tão inventivo
E pareceres contínuo
Tempo tempo tempo tempo
És um dos deuses mais lindos
Tempo tempo tempo tempo...

Que sejas ainda mais vivo
No som do meu estribilho
Tempo tempo tempo tempo
Ouve bem o que te digo
Tempo tempo tempo tempo...

Peço-te o prazer legítimo
E o movimento preciso
Tempo tempo tempo tempo
Quando o tempo for propício
Tempo tempo tempo tempo...

De modo que o meu espírito
Ganhe um brilho definido
Tempo tempo tempo tempo
E eu espalhe benefícios
Tempo tempo tempo tempo...

O que usaremos prá isso
Fica guardado em sigilo
Tempo tempo tempo tempo
Apenas contigo e comigo
Tempo tempo tempo tempo...

E quando eu tiver saído
Para fora do teu círculo
Tempo tempo tempo tempo
Não serei nem terás sido
Tempo tempo tempo tempo...

Ainda assim acredito
Ser possível reunirmo-nos
Tempo tempo tempo tempo
Num outro nível de vínculo
Tempo tempo tempo tempo...

Portanto peço-te aquilo
E te ofereço elogios
Tempo tempo tempo tempo
Nas rimas do meu estilo
Tempo tempo tempo tempo...

Festival de Humor

Quadrinho de André Dahmer, desrito por Rachel Nunes

"O encontro anual dos donos do mundo". Em Jasper, Texas, dois, digamos, empresários, conversam: "Se a guerra acabar, será o fim da chuvinha de dinheiro", ao que o outro retruca, "Não seja tolo, Lucius. Vamos fazer novas guerras em algum outro país pobre, como sempre"; o primeiro começa um raciocínio, "Mas e se os jovens protes...", sendo interrompido pelo segundo, que finaliza: "Os jovens estão tomando comprimidos para dançar, Lucius". Em Valais, Suíça, prossegue, com um empregado trazendo um informe para um senador: "Os homens da guerra ligaram, senador. Eles pedem educadamente por mais..." - e complementa o senador "...medo". Voltamos a Jasper, Texas, com um financista exultante: "O senador aprovou o banho de sangue!". No Cuquistão, duas horas depois, temos o quadro da guerra, neste caso a reprodução do famoso Guernica, de Picasso. No último quadro, novamente Jasper, Texas: "Deu certo, mas sinto medo de sufocar", diz um primeiro, com o um mar de dinheiro chegando até o pescoço. O outro finaliza, também quase coberto pelo dinheiro: "Sufoco é coisa de pobre, Lucius".