31 de mar. de 2010

Porque é Primavera

Terca-feira - mais precisamente 5h da manha de quarta-feira. Estou voltando pra casa bebada, puta e ainda mais pobre do que quando saí. Pela terceira vez desde que cheguei em Berlin roubaram minha bolsa com TUDO dentro. Ah ah, sao coisas da vida, diria Rita Lee. Fazer o que? Sem „o dinheiro do busao“, sem moral ou muito equilíbrio, me restou do fim de noite uma caminhada com aquela sensacao ruim de que falta alguma coisa. Mas a vida é piedosa. Lá pelo décimo quarteirao tropeco num volume grosso, páginas amarelas, capa dura e vermelha – a cara da bíblia, mensagem de deus – com o título em fonte clássica e dourada: FRÜHLING [= Primavera] de Sigrid Undset, Premio Nobel de 1928.

O Sooool, há de brilhar mais uma vez!!!!

E o que é inferno astral perto das mágicas que acontecem quando desabrocha a primavera? Eh estacao carinhosa, a luz há de chegar nos coracoes. Seja bem vinda, ala das flores.

29 de mar. de 2010

20 de mar. de 2010

A arte ensinando a vida - Um exercicio de ser


"Um corpo destreinado é como um instrumento musical desafinado, em cuja caixa de ressonancia há uma barulheira confusa e dissonante de ruídos inúteis, impedindo a aidicao da verdadeira melodia. Quando o instrumento do ator, seu corpo, é afinado pelos exercícios, desaparecem as tensoes e os hábitos desnecessários. Ele fica pronto para abrir-se às ilimitadas possibilidades do vazio. Mas há um preco a pagar: diante desse vazio desconhecido surge, naturalmente, o medo. Até mesmo um ator de larga experiencia, sempre que vai retomar seu trabalho, quando se ve na borda do tapete sente esse medo voltar - medo do vazio dentro de si mesmo e do vazio no espaco. Imediatamente, ele trata de preencher o vazio para livrar-se do medo, tentando achar alguma coisa para dizer ou fazer. Sentar-se imóvel ou ficar quieto requer muita coragem. A maioria de nossa manifestacoes exageradas ou desnecessárias provem do pavor de nao estarmos realmente presentes se nao avisarmos o tempo todo, de qualquer jeito, que de fato existimos. Isso já é um grande problema no dia-a-dia, em que pessoas nervosas e descontroladas podem nos infernizar a vida; mas no teatro, onde todas as energias devem convergir para o mesmo fim, a capacidade de reconhecer que se pode estar totalmente "presente", embora aparentemente sem fazer nada, é fundamental. É importante que todos os atores reconhecam e identifiquem tais obstáculos, que nesse caso sao naturais e legítimos. Se perguntarmos a um ator japones sobre seu modo de atuar, ele admitirá que já enfrentou essa barreira. Quando atua bem, nao é porque elaborou previamente uma composicao mental, mas sim porque criou um vaio livre de panico dentro de si"

9 de mar. de 2010

Spass


Geschmack braucht keinen namen

Sabor nao precisa de nome

Essa é a Bier, uma cerveja muito poupular na noite de Berlin. É vendida assim, sem mais nem menos. Um retorno ao anonimo, uma tentativa simpática de protesto contra o MKT sem, no entanto, conseguir ser imune ou inocente a ele. Mais ou menos como a cidade que se faz indiferente a forma do seu tempo, mas nao seria assim, tao autentica, se nao fosse o contraste com o mundo. Muitas vezes a negacao é a afirmacao cansada, munida do mesmo impulso, voltada por inércia à contra mao. É a repeticao das insatifacoes da historia, uma resposta ao excesso. É o vai e vem do famoso pendulo, percebido, por sinal, por um alemao. Seja la como ou o que for, é um movimento que me parece razoavel. E é divertido quando, no bar, me vejo com uma garrafinha dessas na mao.

3 de mar. de 2010

O desbunde em movimento

Vida

A consciencia de si mesma era, pois, uma simples funcao da matéria organizada em prol da vida, e numa fase mais elevada dirigia-se a funcao contra o seu próprio portador, convertia-se no desejo de pesquisar e explicar o fenomeno ao qual deu origem, na tendencia esperancosa e desesperada da vida para se conhecer a si própria, na auto-investigacao da natureza que sempre acaba sendo va, visto a natureza nao se poder resolver em conhecimento e a vida nao ser capaz de contemplar os últimos segredos de si mesma.
(...)
Que era, entao, a vida? Era calor, o calor produzido pela instabilidade preservadora da forma; era uma fébre da matéria, que acompanhava o processo de incessante decomposicao e reconstituicao de molécula de albumina, insubsistentes pela complicacao e pela engenhosidade da sua estrutura. Era o ser daquilo que em realidade nao podia ser, daquilo que, a muito custo, mediante um esforco delicioso e aflitivo, consegue, nesse processo complicado e febril de decadencia e renovacao, chegar ao equilíbrio do ponto do ser. Nao era matéria nem espírito. Era qualquer coisa entre os dois, um fenomeno sustentado pela matéria, tal e qual o arco-íris sobre a queda d´água, e igual a chama. Mas, se nao fosse material, era sensual até a volúpia e até o asco, o impudor da natureza tornada irritável e sensível com respeito a si a própria, e a forma lasciva do ser. Era um movimento clandestino, mas perceptível no casto frio do universo, uma secreta e voluptuosa impureza composta de succao e de evacuacao, uma exalacao excretória de gás carbonico e de substancias nocivas de procedencia e qualidade ignotas. Era a vegetacao, a desenvolucao, a canfiguracao - possibilitadas pela hipercomposicao da sua instabilidade e controladas pelas leis de formacao que lhe eram inerentes - de uma coisa túmida de água, de albumina, de sal e de gorduras, coisa que se chamava carne e se coonvertia em forma, em imagem sublime, em beleza, mas, ao mesmo tempo, era o princípio da sensualidade e do desejo. Pois essa forma e essa beleza nao eram conduzidas pelo espírito, como na obras da poesia e da música, nem tao pouco por uma substancia neutra, absorvida pela espírito, e que o encarnasse de uma maneira inocente, como o fazem a forma e a beleza das obras plásticas. Era, pelo contrário, conduzida e elaborada por uma substancia da própria matéria organica que vivia se decompondo, pela carne cheirosa...