É! Corro, como filha de Insã que sou, porque sou do vento.
Tenho pressa de ser o que não sou, mas me demoro e quando sou o que queria ser já é tarde, não sou mais o que quero agora. Tenho pressa de me encontrar e não sei mirar o horizonte. Em que direção estou? Será que corro para mim ou de mim? Não paro para pensar porque olhar-me por dentro me cansa mais do que correr. Também não paro por medo. Temo que, ao freiar, o vento viciado passe levando minhas máscaras e me jogando nua e oca pelo chão. Sim, porque apesar de calejadas em meu rosto há tanto tempo, sinto as máscaras desgastadas e frágeis, quase pequenas para o corpo que imperceptivelmente cresce e silencio.
E entao, será que as pessoas me reconheceriam? Não, elas já não entendem a necessidade de parar. Será que eu me reconheceria? Já não enxergo meus pés. Será que eu era e desapareci ou será que nunca fui e estou nascendo?
Sinto contrações. O momento de escolher se aproxima e isso de certa forma faz com que eu diminua o ritmo involuntariamente. Sinto calor e alívio. É como se eu tivesse estudado durante toda a vida que tive até aqui para responder a essa única pergunta, para me submeter a essa única prova. Não há mais o que revisar nem nada que se possa fazer a não ser enfrentar.
Enfim, eis a questão:
Ser ou não ser?