3 de mar. de 2010

Vida

A consciencia de si mesma era, pois, uma simples funcao da matéria organizada em prol da vida, e numa fase mais elevada dirigia-se a funcao contra o seu próprio portador, convertia-se no desejo de pesquisar e explicar o fenomeno ao qual deu origem, na tendencia esperancosa e desesperada da vida para se conhecer a si própria, na auto-investigacao da natureza que sempre acaba sendo va, visto a natureza nao se poder resolver em conhecimento e a vida nao ser capaz de contemplar os últimos segredos de si mesma.
(...)
Que era, entao, a vida? Era calor, o calor produzido pela instabilidade preservadora da forma; era uma fébre da matéria, que acompanhava o processo de incessante decomposicao e reconstituicao de molécula de albumina, insubsistentes pela complicacao e pela engenhosidade da sua estrutura. Era o ser daquilo que em realidade nao podia ser, daquilo que, a muito custo, mediante um esforco delicioso e aflitivo, consegue, nesse processo complicado e febril de decadencia e renovacao, chegar ao equilíbrio do ponto do ser. Nao era matéria nem espírito. Era qualquer coisa entre os dois, um fenomeno sustentado pela matéria, tal e qual o arco-íris sobre a queda d´água, e igual a chama. Mas, se nao fosse material, era sensual até a volúpia e até o asco, o impudor da natureza tornada irritável e sensível com respeito a si a própria, e a forma lasciva do ser. Era um movimento clandestino, mas perceptível no casto frio do universo, uma secreta e voluptuosa impureza composta de succao e de evacuacao, uma exalacao excretória de gás carbonico e de substancias nocivas de procedencia e qualidade ignotas. Era a vegetacao, a desenvolucao, a canfiguracao - possibilitadas pela hipercomposicao da sua instabilidade e controladas pelas leis de formacao que lhe eram inerentes - de uma coisa túmida de água, de albumina, de sal e de gorduras, coisa que se chamava carne e se coonvertia em forma, em imagem sublime, em beleza, mas, ao mesmo tempo, era o princípio da sensualidade e do desejo. Pois essa forma e essa beleza nao eram conduzidas pelo espírito, como na obras da poesia e da música, nem tao pouco por uma substancia neutra, absorvida pela espírito, e que o encarnasse de uma maneira inocente, como o fazem a forma e a beleza das obras plásticas. Era, pelo contrário, conduzida e elaborada por uma substancia da própria matéria organica que vivia se decompondo, pela carne cheirosa...

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