29 de set. de 2010

Tem dias que a gente se sente como quem partiu ou morreu!

A gente acerta o passo, coloca em trilhos amenos a roda viva, se acostuma com ela. E vai levando. Ainda me assusto quando paro para olhar o mundo onde me coloquei. Contudo, passou o desconforto. Aliás, jamais me senti tao avontade - o que, por sorte, nao me impede de admirar constatemente o que mudou. A lingua já nao me fere os ouvidos, nem tao pouco me machuca como antes o frio. Já nao tomo como secas as palavras diretas, nem como distantes os apertos de mao. Já nao corro nem de punks, nem de carecas. Sei hoje que eles tem muito o que perder e que tal circunstancia desmascara suas falsas violencias. Diferenca ideologica é brisa perto de discrepancia social. Aprendi a falar baixo, a trabalhar duro, a tomar vinho tinto e respeitar as diferencas. Mudei até de cor. Ando pela cidade com desenvoltura, conheco e aplico a maioria de suas regras de comportamento, tenho bons e verdadeiros amigos, carteira assinada e um canto pra chamar de meu. Nao penso em volta. Aliás, me encomoda o fato de nem siquer pensar em outro lugar. E com tudo, nao posso chamar de raros os dias em que me sinto como quem partiu ou morreu. É uma emocao proibid, a e por ser assim me encabula. Sou uma entre milhoes de "foragidos". Desconfio que o movimento migratorio Berlinece seja de cunho existencial. Nacionalismo e construcao familiar sao levadas quase como condutas fascistas. E deixar-se seduzir ou abater por elas é fraqueza política, para nao usar a proibida palavra espiritual. Afinal de contas, nao existe Deus em Berlin. Mas de vez em quando eu peco. Sinto o Brasil tao longe, que fica remota até a saudade. Doi uma dor esquisita, uma solidao seca, uma distaaaancia. Um despertencimento. Uma morte mesmo, nao como quem partiu. Ma como quem abandonou.

3 comentários:

Marcela. disse...

partida e morrida a hora da chegaada silenciosa da saudade. partida de casa, jogada da ponte, morrida na agua. corpo morto flutua na agua e nao deixa a cidade esquecer que alguem se foi. e com uma lagrima no rosto que passo por de cima do viaduto e lembro. Nandina, saudade de Nandinha, minha familia, parte das mnhas preces, futura madrinha de meus filhos e se tudo isso for pecado melhor ainda tenho mais talento pro bolo queimado do que pra dia de eleicao em pleno domingao.

te amo irma

Isabela Mena disse...

ai, fê, que lindo tudo isso que você escreveu e que vontade de, de novo, copiar tudo e colar tudo. e que lindo isso que sua amiga escreveu...
no mais, me resta dizer que, apesar de hoje ser sábado, ainda cheira a casa do bolo de chocolate que asse e deixei queimar.

disse...

isita, querida. Essa nao é só uma amiga. è minha irma e, muito em breve, a hild hist da nossa geracao.