4 de ago. de 2010

Ir tao longe pra chegar mais perto


Desde que cheguei - há exatos dois anos e meio - recebi muita gente. Tanto que perdi a conta. Velhos amigos que se misturaram com os novos. Amigos de amigos que se tornaram meus. Amigos perdidos e aqui reencontrados como se sempre estivessem estado ali. Mae, pai e irma em diferentes tempos e em contexto novo. Antigos casos de "amor" que miguaram com o grito das diferencas e transmutaram para o descomplicado mundo das amizades.

"E pela lei natural dos encontros eu deixo e recebo um tanto". E nao há troca mais doce que um encontro. Os que tenho vivido tem a graca do movimento, o que muda toda disposicao da ocasiao. A maioria dos que chegam estao vindo de lá para ir a colá, sao passantes, mambembes do instante. Vem com a agitacao que a novidade traz aos pensamentos. E a química da carga deles com o que vem se tornando a minha vida traz sempre uma solucao inédita. Redescubro uma nova Berlin, me reencontro com ela - e comigo também. Há ainda mais beleza. Com muitos deles nao troquei antes mais de duas palavras. Com outros existe um silencio de alguns anos desde a última conversa. Já nao somos mais os mesmos, há um novo tempo, há um novo espaco. E de repente eles estao sentados no sofa da minha casa falando e ouvindo com aquela abertura mágica dos que sairam da órbita. E ganho tanto. Nasce qualquer coisa, nem que seja um ponto de interrogacao. Por fim, ficam os mimos, presentinhos e carinhos. Cartinhas deixadas no pé da cama, cafés da manha dispostos na mesa, emails e fotos já distantes. Foi tudo verdade, aconteceu. Mais! É tudo verdade, está acontecendo. E sou eu quem agradeco, pois nao me sinto anfitria, mas recebida. E é tao bom dar-se.

Ontem recebi um desses emails. Meus ultimos ciganos, Giugiu e Bill. Ela, uma prima nao tao distante. Ele, um que eu pensava ser recém agregado - o que me fez pensar no tempo, já que cinco anos nao se pode mais chamar assim, de recente - sao tantos os tempos, que alguns escorrem sem que se veja, sem que se sinta -. Convivi com ela esporiadicamente minha vida inteira em natais e encotros de familia, nos quais nao trocamos mais que cumprimentos. E foi preciso ir tao longe pra finalmente chegar perto. Ela é atriz - meu Deus, nao me perdou por nao ter sabido disso antes - ele, musico. Ela é doce como nunca pude ver, ele curioso como nao pude imaginar. Ela ajuda ele a enxergar o mundo, ele a ajuda a fazer algo do que viu. Foram quatro ou cinco dias - já nao posso me lembrar. Eu chegava exausta do trabalho e eles acabados pelo turismo. E seguia-se mais umas horinhas de papo na cozinha ou uma cervejinha no bar da esquina. Foi delicado, bom de mais conhece-los. Nao só pelo que me deram em palavras, mas por um prazer que ganhei. Na proxima reuniao de familia, entre encontros triviais, ei de me sentar para um bom papo com dois bons amigos.

A foto, tirada por eles da janela do meu quarto, chegou ontem com o email. A garagem do meu prédio, tao banal, chega a mim com olhar diferente. Nada de mais? Nem de tao pouco. Acho tao verdadeira a alegrai de "descobrir o sublime no trivial", como um dia colocou Clarice....

3 comentários:

Giu Rocha disse...

Fefe querida. Adorei seu post. Bom poder dividir mais um prazer com vc. Mas uma conversa, essa virtual!
Vou acompanhando seu mundo por aqui. Visite nossos mundinhos virtuais também. Assim podemos ter mais encontros...

verozacharias disse...

e os que passam por aí, vivem uma espécie de sonho, aquele que não se sabe ao certo se foi verdadeiro ou se foi um sopro de ilusão!
te amo, zuzu

Rita Loiola disse...

Nossa, que bonito. É bem assim.