14 de out. de 2010

Descobrindo as divas - I

Meu pai sempre gostou de Billie Holiday. Falava nela, colocava pra tocar no radio, dancava e cantava numa melacao gostosa. Chegava até a me despertar curiosidade, mas era passageira. Eu andava tao ocupada descobrindo a música brasilera, que nao sobrava tempo, coracao, olhos ou ouvidos para outra coisa. Quando cheguei em Berlin continuei me ocupanado dela, usando até de mais dedicacao, liberdade e independencia. O primeiro ano foi de uma solidao tao absoluta e desconhecida, que fiz de Caetano, Joao Gilberto, Angelo Roro, Rita lee, Tim Maia, Secos e Molhados, Marisa Monte, Maria Bethania, Baden Powel e tantos outros, minhas únicas, mas confortávies companhias. Quis até escrever-lhes cartas falando de todo meu amor e gratidao. Noites seguidas, madrugadas a dentro, trancada sozinha no meu apartamento de sala e quarto, separada do frio que fazia lá fora, da Berlin que fazia festa, do Brasil que continuava por de tras do Alantico, da vida alheia que nao parava com a pausa da minha, do mundo todo que seguia rodopiando sem que eu o notasse. Nao sei quem era mais indiferente a quem, se ele a mim, ou eu a ele. Sei apenas que me bastavam a cerveja, o baseado, os cigarros concecutivos e esses brasileiros e suas músicas. Nesse comeco nao fiz muito alem disso. Eram conversas longas, descobertas. Nao me faltava carinho. Eu nao precisava dizer nada e sentia como se eles me entendessem, me notessem, me consolassem como ninguém. Ri, me arrepiei, chorei, dancei, gargalhei, desacreditei, interpretei alto e despreocupada, tantas vezes! Ia dormir farta e morta de cansaco. Foi um tempo assingular, de encontro. Uma meditaca as avessas, que gosto de chamar até de descontrucao. Hoje me parece distante, unclear. Quando saí do casulo, voltei ao mundo, reencontrei os outros, a realidade a minha volta falava outras línguas, dancava outros sambas, cantava outras dores. E tudo que eu acumulara, nao apenas no ano postumo, mas em todos os outros antecedentes a ele, tinha valia e identificacao somente a mim e a um lugar abandonado. Era novamente em branco. E com todo desacostume social que o isolamente me causou, estranhei de mais toda a novidade. Ainda tive o despreendimento de bater os pés e rechacar, mas a fase era morta. Chegava enfim e de novo a hora de abrir e dividir. Permitir o encontro. E para chegar mais perto de toda essa gente que de uma hora pra outra comecava a fazer parte da minha vida, eu tinha, antes de tudo, que compreender a sua música. Nao foi fácil. Além de bloqueada eu andava exigente e preconceituosa. Nada se comprava a poesia de Chico, ao violao de Baden, a sensualidade e Caetano, a forca de Bethainia ao balanco de Jorge Ben, a voz de Elis. Nada entrava de verdade na minha alma. Achava tudo mais-ou-menos, descartavel, pobre e superficial. Até recorrer a um passado, talvez como o meu brasileiro, mas desse vez de todo mundo. E comecaram aos poucos a chegar aos velhas, mas boas novidades.

The Blues are grewin ao som de Billie Holiday me deu tanta extase quanto descobrir Oracao ao Tempo de Caetano ou Samba Triste de Baden. Tem tanto sentimento, blues e música quanto. E a letra - meu deus a letra - fala pra mim tanta verdade...

Um comentário:

Babi disse...

Que linda! Que Saudade! Te mandei 2 e-mails! Responda!
E o primeiro ano não era só solidão, eu estava lá =)!
Beijos da prima